domingo, agosto 27, 2006

Ventos

Os ventos hoje me trouxeram a boa notícia de uma amiga que está a amar e ser amada. É um ar fresco que infla meus brônquios enchendo meu peito de esperença e sorriso. É um cheiro que afaga o meu rosto e me faz voltar a face para o futuro. É um tato que me empurra para frente. E eles balançam meus cachos com doçura.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Seleção

Um pingo de imagem sobre a retina, e os olhos brilham, acordam; um toque suave sobre a pele, e um arrepio sobe pela coluna; uma onda sonora esbarrando nos tímpanos, e uma paz dançando pelo corpo; um odor entrando pelas narinas, e lembranças pipocando na tela mental; um sabor deslizando pela língua, e um formigamento pelo corpo, pelo sexo. A maravilha da seleção natural ao nos dotar de sentidos não foi tanto nos propiciar um meio de obter informações sobre o meio circundante, foi antes a de nos dar essa ponte mágica que nos leva do eu ao outro e do outro ao eu e do eu ao eu. Sem isso, jamais nos adaptaríamos ao mundo das relações.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Psique

"A energia de Psique se perde sem a luz do encontro com Eros" (Algum poeta).

É por isso que eu corro ao seu encontro, no tempo e no espaço, para lhe salvar a vida, e a minha também.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Venusiana

Outro dia olhava para as estrelas quando vi que uma delas piscava. Mas não era bem uma estrela e sim Vênus. Fiquei intrigado, pois ele piscava de maneiria incomum, com regularidade. Passei a observá-lo noites seguidas, até perceber que os intervalos luminosos seguiam o padrão do código morse. Qual não foi, então, a minha surpresa quando li, no céu estrelado, o chamado, "Eros, estou observando você". Esfreguei os olhos, mas quando os abri, percorri outra seqüência luminosa, que dizia, "Não se assuste, Eros, já faz tempo que eu o acompanho". Pensei que estivesse ficando doido. No entanto, depois de mais algumas interações, notei que os seres de Vênus podiam ler meus pensamentos. E assim passei a dialogar com o planeta todas as noites. Na verdade, não era com o planeta, mas com uma venusiana. Fiquei encantando com as coisas que ela falava sobre mim, vendo-me lá de cima. Certa vez, ela me disse que sempre sonhara em me dar as mãos nas minhas caminhadas solitárias e que um dia desejou ser a luz para se projetar sobre mim, quando me viu pensativo sobre as gramas do Botânico. Outro dia eu perguntei a ela se a distância não era um empecilho para o nosso amor e ela me respondeu mais ou menos assim: "Tolinho, pense bem. A distância pode até diminuir a força gravitacional, mas é impotente para aniquilar com ela. E olha que, entre as forças físicas, ela é a mais fraca, a menos significante. Acha então que a distância poderia fazer algo contra a mais intensa das forças metafísicas?". Mesmo assim eu chorava por não poder abraçá-la e ela me consolava dizendo para eu jamais deixar de sonhar, que, se eu o fizesse, aí sim deixaria de ser possível o que desejava. E como sonhei e como ainda sonho ser resgatado pela minha namorada venusiana.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Sou um ateu que acredita fervorosamente na possibilidade do amor. Eu não preciso ter vivido um amor de cem anos, nem estar amando para acreditar que posso vivenciar um encontro efetivo, assim como um cristão não precisa de qualquer evidência para abrir o seu peito à graça divina. Eu simplesmente abraço o mundo com essa vontade transcendente de amar, mesmo que ele jamais venha a me corresponder.

Natureza

Quando ele acordou do seu sonho azul, entristeceu-se com a possibilidade de a realidade ser cinza. Mas depois pensou que poderia acordar deste pesadelo. Por fim, percebeu que não importa se está em vigília ou dormindo. Em suas veias, flui a esperança, em seu peito, bate a força aliterativa do t, e o vento que lhe penteia os cachos vai lhe abrindo o caminho para o futuro. A natureza há de levá-lo para um bom lugar.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Azul

Apesar de o céu ter amanhecido acinzentado, o que, nestes tempos de estiagem e racionamento, é extremamente desejável, eu estampei no peito, em franca rebeldia, um azul celeste. Não precisei da luz solar para me iluminar, todo o eu já estava radiante.

terça-feira, agosto 15, 2006

Homeoteleutos

Homeoteleutos, eu já vos conhecia, mas não com este nome. Agora que vos vejo, meus olhos matam a fome.
Quero para mim a força aliterativa do t esbravejada no "Eu te amo".
Quero agradecer às palavras fônicas o conhecimento que me sibilaram

Amar

Dormir e acordar com um brilho nos olhos, por ter em quem pensar, cumprimentar o mundo, por saber que ela o habita, envolver-se com os braços, para sentir a sua pele, andar correndo, por estar sempre indo ao seu encontro, abrir os olhos para vê-la, fechar os olhos para vê-la novamente, sorrir muito, transbordar amor, por saber que ela existe, respirar sempre fundo, para inspirar a sua presença. No mundo que vislumbro, faremos assim. Em meu mundo, eu sou assim.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Abundante

O amor universal cristão era possível para Cristo, pois, por suposição, ele era/é onipotente. Com uma atenção ilimitada, ele podia/pode amar a todos igualmente. Mas a mensagem que ele nos deixa ao morrer na cruz, por amor a nós humanos, é clara: não deixe a sua atenção ociosa e nem a desperdice em vão. Como seres finitos, temos uma obrigação ainda maior de gerir os nossos recursos amorosos com maior preocupação e diligência. A vontade de amar jorra abundante no mundo que vislumbro.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Pães

Simplicidade. Gosto de ir comprar pães na padaria. Ver o sorriso de olhos esverdeados da atendente. Ela retribui em igual media o cumprimento aberto que lhe dou.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Curitiba

Quando a minha mãe disse que achava muito difícil andar pelas ruas de Curitiba como pedestre, em virtude da falta de sinalização, o que eu concordo, o escroque do seu primo carioca, que aqui mora há mais de dez anos, disse: "sim, é verdade, mas só esse povo pobre, humilde anda à pé.". Essa resposta ele já não deu mais como carioca e sim como curitibano. Eu sinto um cheiro de esnobsimo no ar desta cidade. Evidentemente, não falo da totalidade, falo do típico, que nem precisa ser a maioria, basta que seja representativo.

domingo, agosto 06, 2006

Sorriso

Algumas experiências são impagáveis e indeléveis. O sorriso feliz de alguém que mata as saudades ao lhe ver é uma delas. Nove anos atrás eu desembarcava em Brasília para receber um sorriso assim, contagiante, envolvente, que tinha a capacidade de me fazer sentir completamente vivo, conectato ao mundo. São alguns poucos segundos de existência física que se prolongam por uma eternidade, que transbordam em sentido. Eu me sinto agraciado por ter visto um dia os olhos de um ser humano brilhar.

sábado, agosto 05, 2006

Espera

Nunca espere absolutamente nada de outro ser humano. Deixe-o completamente livre. Se, ainda assim, ele lhe der algo, será genuíno. Espere menos para sofrer menos também.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Amor

Eu nunca disse que era cristão. Amor e afeto devemos dar e eu procuro dar, mas amor e afeto eu não distribuo universalmente. Quem a todos ama, em verdade, não ama ninguém. Sem diferenciação, o amor é tão vazio quanto a palavra "ser". O motivo é simples. Não existe amor sem atenção e a atenção, entre humanos, é um recurso finito e escasso. Se você diz que ama a todos, então doa uma atenção que tende a zero, isto é, não dá atenção alguma. Se isto é amor, é um bem vazio. Amor genuíno requer atenção e, uma vez que você a distribui, limita a quantidade de pessoas que pode amar. Eu dispenso o amor de uma pessoa que não pode me dar atenção alguma. Não, definitivamente, isso não é amor.