terça-feira, julho 31, 2007

Pedra

Havia um pedra
em meu jardim
e eu pensei
ser essa pedra

Mas a terra
a engoliu
com a ajuda
da chuva

Então me vi
deslizando
nas curvas
da pétala anil

Caí no chão
orvalhado
e a lágrima
banhou-me a face

sábado, julho 28, 2007

Lúdico

Eu digo que sou uma eterna criança lúdica porque acredito na magia do amor e vivo, ainda que ilusoriamente, a graça dessa magia, em toda a sua plenitude, recebendo a esperança e o otimismo que ela produz. E sorrio muito ao senti-la na minha pele, florindo cada emoção que me é possível ter. Como hoje...O problema são os seres humanos, jovens velhos que, na sua inquisição laica, guilhotinam a minha crença.

Angústia

O amor dormiu enquanto falava comigo. Eu o abraçava fortemente, cravando minhas unhas em teu corpo, envolvendo nele as minhas pernas, sussurando em seu ouvido as minhas questões. Mas ele dormiu antes que pudesse escutar a minha angústia. Melhor assim, pois que bem faria eu ao amor se lhe pintasse não a minha beleza, mas a minha feiúra? O que há de pior em cada um de nós a gente só olha na completa solidão, à luz de vela, até para não ver demais os detalhes do horror, tal como fazia Dorian Gray.

quinta-feira, julho 05, 2007

...

- Por que você fica aí calado?
- O que queria que eu dissesse?
- Sei lá, qualquer coisa.
- Qualquer coisa.
- Você é mesmo um chato!
- Não sou eu que sou chato, é o meu silêncio que te chateia.
- Para mim, dá no mesmo.
- Não dá. A chatice está no efeito ou na causa? O chato é aquele que, por ser chato, produz a chatice ou aquele que, por produzir a chatice, é chato?
- Que diferença faz? Você está me aborrecendo. Odeio quando você começa com esses papos.
- Entendo. Calado, te chateio. Falando, te aborreço. Faz muito sentido isso.
- Está vendo, você não me entende, não percebe o que eu realmente quero.
- O que você quer?
- Você.
...

domingo, julho 01, 2007

Existência

Você existe mesmo? Como sabe? O prêmio de consolação cartesiano embutido no penso, logo existo é, na verdade, um escárnio, uma ironia, uma trombeta a lhe gozar, a lhe espetar o dedo na cara apontando o seu nada. Para chegar à brilhante conclusão do cogito, você precisa suspender todo o universo, seu corpo, sua história e até as suas memórias. No final desse processo de suspensão, resta apenas um ser amorfo que tem a singular propriedade de pensar. Ele pensa e pronto, nada mais. Termina aí. Mas ele não tem personalidade, não tem rosto, não tem nome, não tem memória, não tem quem se lembre dele, nem quem o toque, pois isso já seria pedir demais. E assim fica claro que podemos existir sem, no fundo, realmente existir. Um eu que perdeu todas as suas relações com outros eus deixou também de ser. Existe apenas como essa coisa amorfa pensante, destituída de qualquer significado.

Felicidade


Consumidor feliz, vibrante na euforia do desejo realizado. Quanto tempo ela durará?