domingo, fevereiro 03, 2008

Verme

Hoje sou um miserável, um verme, um pedaço de culpa ambulante, uma culpa prevista, antevista, e ainda assim, nada fiz, deixei-a me atropelar, estava fraco para levantar o braço, ou ainda pior, talvez essa seja a desculpa que me conte para aliviá-la, no fundo, talvez buscasse o prazer mórbido da auto-aniquilação, sabia que iria me remoer depois e nada fiz, nada fiz, depois de um dia tão agradável, usufruindo de louváveis sensações, puni-me, sem o saber, mas sabendo, pois nada disso mereço, não mesmo, um verme só merce ser pisoteado, ser comida de peixe, e um verme consciente é simplesmente uma ignomínia, uma infâmia, nunca tive inimigos, nem preciso ter, todo o mal de que preciso e mereço encontra-se em mim, na consciência que carrego, me aprisiona e me esmaga; aí se vão as pinceladas acinzentadas, mas não me olhem com compaixão, eu os odiaria por isso, eu mesmo, agora, não me vejo assim, sofredor, digo até que sinto um prazer nisso tudo, o prazer de Tânatos. Minha infâmia é tão grande que é bem provável que amanhã, ao acordar, não mais reconheça essa cara desfigurada que vejo no espelho, estarei leve como uma pena.

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