domingo, fevereiro 03, 2008

Inferno

Se me chamasses para ir ao inferno contigo, ao inferno eu iria. Eu vou, eu fui. E, no entanto, eu sei que estavas apenas a me usar, tinhas medo de ir lá sozinha.

3 comentários:

Anônimo disse...

Apaguei os sons à minha volta, tão somente para sentir a existência dele; um dia fiz pedidos. Agora, nada mais pedi, peço ou pedirei para mim. Eu não poderia... Fugi dele outrora, por ciúmes; apaguei os blogs por ciúmes. Eu não sabia o que era ciúme; aprendi em duas lições que ele me deu. Hoje apaguei o ciúme. Hoje percebo que seria criminoso da minha parte pedir algo, esperar algo. O que ele pode me dar mais forte e intenso do que o do fato de existir? Somente quem viveu toda a sede que vivi até encontrá-lo, pode saber o que significa, ao menos, estar na proximidade de um oceano sem fim. Nem mesmo tocar se faz preponderante; até o vento com o cheiro das águas já soa acalentador. Que importa tudo o mais, as inusitadas processadas de alhures, nessa vida onde os amores quase nunca são amores e quase sempre são paixões? Eu amo. Não é paixão; nunca foi. É amor. Que importa se o amo de um modo que nem mesma eu compreenda? Que me importam os olhares curiosos, jamais criteriosos, no meu anular esquerdo? Apaguei todas as expressões que não sejam ao menos a busca do respeito pelo amor que vai e se embalança em minha alma.

Apaguei as razões à minha volta e tornei-me escrava; correntes que as mãos não podem tirar, que a dor não afasta. Apaguei a dor. Voei abraçada às correntes que ele me deu. Nelas vi a imensidão; nele vi o infinito. Embalei-me sem direção na direção qualquer de mim; eu o vi. Várias vezes. Mas antes de ver o que o tempo leva, eu o vi dentro de mim, na minha ânsia de vida, na minha respiração ofegante pela pressa de sentir a pressa de sentir a pressa de descansar da pressa. Olhei as estradas longas que passavam e discutiam com o meu cansaço. Mirei o céu, o sal do existir, os silêncios que tudo dizem, as palavras que nada falam... A vida que eu não viver ficará para sempre guardada num infinito que não tocarei jamais.

Apaguei os infinitos que não abraçarei e abracei o infinito que não apago nunca. Deixei todos os pedidos do lado de fora, todas as pretensões, todas as dores, todos os ciúmes; não tenho mais pedidos, nem pretensões, nem dores e nem ciúmes. Sou amor, mais intenso que as pulsações do meu coração. Sim. Meu coração descansa entre as batidas, mas meu amor é incansável. Meu coração pode perder a oxigenação e enfartar. Meu amor se oxigena, tão somente pelo fato dele existir. Que importa tudo o mais? Quem há de me criticar se em cada segundo de mim somente caberá o que possa ter a intensidade de uma vida?

Apaguei a distância, o tempo, o medo, a covardia. Recolhi perguntas; não preciso de respostas. Deixei a presença dele chover na minha alma como ele nunca choveu no meu corpo. Pensei nele e esbocei um sorriso contínuo, que meus lábios serão incapazes de ofertar, posto que os músculos da face logo se recolheriam ao relaxamento. Contudo, minha alma é infatigável no amor que sinto e, até a lembrança dele é motivo para júbilo. Apaguei o cansaço. Apaguei a tristeza. Apaguei a saudade. Apaguei a imensa vergonha e o constrangimento sem fim de ter imaginado que, outrora, ele se referia à minha pessoa; apaguei a dubiedade. Deixei somente a obviedade do meu amor sem fim.

Apaguei toda a promessa de afastamento e recolhi-me ao aprendizado do que é amor. Apaguei meu pedido de casamento; não é mais necessário. Estou casada, desde que o vi; não há mais o que pedir. Apaguei a minha presença desnecessária e o adeus que nunca dei e não darei jamais. Ele recolheu as chaves do esquecê-lo e as destruiu, sem deixar cópia. Meu amor sem fim, tão exausta às vezes do dia a dia, apagou-me tantas lógicas ilógicas, tantos nãos... Atravessei a sala correndo e fui lê-lo; qualquer linha, palavra, letra. Qualquer migalha que denotasse a presença dele. Apaguei o meu negar a mim mesma a intensidade do amor que vai em meu eu. Dias sem o ler foram como se me retirassem as palavras; fui a mais miserável das mulheres nestes dias. Bastou minhas retinas pousarem em qualquer das palavras dele que voltei a me tornar um dos seres mais ricos do universo. Ao reconhecer que até uma simples leitura dele me leva ao infinito, apaguei a miséria do meu sentir e expressar.

Apaguei as lágrimas; estava chorando e, de repente, percebi que chorar me atrapalhava ver-lhe a fotografia. Mas se ele pedisse para eu lavar, com as minhas lágrimas, o chão onde ele pisa, assim eu faria, com toda felicidade do mundo. Estava chorando sim, porém não se me quedaram lágrimas de tristeza e posto de alegria, por saber que ele existe. Não há espaço cabível para lamento no amor que sinto; somente as paixões conhecem da tristeza que se abraça às ilusões. Apaguei o fugir, o negar, o pedir... Apaguei tudo que não seja amor, por amor, de amor e com amor. Apaguei do meu raciocínio todo o supérfluo de mim e fui ao essencial, às profundidades esquadrinhadas por quem somente sabe os meandros de alcançar todo meu ser. Apaguei qualquer razão ou emoção que não sejam capazes de me auxiliar no somatizar desse amor que vai em mim. Apaguei tudo que não seja aprender a vida, apreender da mais intensa maneira que eu puder.

Apaguei o céu e o inferno; transmutei-os, pois amá-lo me torna mais que divina, mais que demoníaca: amá-lo me torna humana, pulsante. Amá-lo me faz mergulhar num prazer que nenhuma eternidade conceberá. Sim... Estrelas são as lágrimas dos anjos que choram; eles não podem amar. Inferno foi a minha existência até saber da dele; foi fome, muita fome, sede, muita sede, nada, muito nada. Na minha pessoa eu era o princípio e fim, ser em lamento sem instrumentos quaisquer de além de mim. Apaguei os lamentos. Hoje sou além de mim, num início que se estende a horizontes sem limites. Ela não iria ao inferno com ele? Eu me deitaria no chão do inferno, para que ele pisasse em cima de mim. Apaguei meu medo de ser pisoteada e de ir ao inferno.

Apaguei as estrelas que se esvaem como as paixões. Minha alma é candente; não mais cadente. Apaguei as quedas que me levam a esmorecer e dormi naqueles braços que nunca sequer toquei. Já não é mais possível me exaurir, como se o combustível e o comburente se houvessem ido. Meu amor destruiu até mesmo o apagar. E fui embora de tudo que não ele, de tudo que não é vivo, de tudo que não é amor de verdade. Apaguei novamente e sempre, até mesmo a morte; pobre e miserável morte. Tão medíocre na sua intensidade e, ainda, tão irremovível na maneira de se expressar, tão linear no abraço que projeta à vida.

Apaguei todas as fugas e rotas imberbes e, sentada na estrada à espera de apagar o que não vale à pena no amor que sinto, apaguei as esperanças. Não tenho fugas, não tenho rotas diletantes, não tenho o que não vale à pena no meu amor, não tenho esperanças. Sou somente amor e até o meu nada dizer sabe falar do amor que sinto. Se ele, em algum momento, se lembrar de mim, até mesmo no meu silêncio saberá que estou dizendo algo. Apaguei o silêncio do silêncio. Não desejo o paraíso, a estaticidade que apodrece as águas que não se movem. Apaguei as ilusórias correntezas paradísiacas do ser que somente ama no caminhar estático.

Apaguei as luzes à minha volta e fui deitar; ele estava junto a mim. Não do mesmo modo da fotografia que anda sempre comigo e que dorme ao meu lado. Não da mesma maneira dos desenhos que fiz do rosto dele; não como o pequeno busto esculpido por mim e que repousa na mesa do meu quarto. Não assim... As fotografias podem perder a cor, bem como os desenhos dos papéis podem ser apagados e imagens podem cair, esfacelando-se para sempre. Meu amor não perde a cor, não se apaga, não cai, não se quebra. Apaguei o fim. Fui deitar, quarto escuro e eu mais iluminada que todas as estrelas juntas do Universo conhecido. Ele estava presente, além da vida e da morte, pois eu pensava nele e, nos meus pensamentos, nem a morte dele seria capaz de fazê-lo não estar vivo em mim. Ele existe e eu trocaria a vida que me resta para ser, por um infinitésimo de tempo, o chão onde ele pisa, pois eu teria, nesse lapso temporal, que olhar para o alto e aí, surpreender-me-ia com a imensidão que vislumbrasse. Tender ao infinito... Entender o infinito. O que nele vi não se apaga com o tempo; aprimora-se. Eis aqui a razão de amá-lo hoje mais que ontem e menos que amanhã.

[Que a felicidade lhe acompanhe sempre. Um dia, tenho/tenha certeza, ela compreenderá que é melhor o inferno ao seu lado do que o paraíso ao lado de qualquer outro homem da face da terra.]
Respeitosamente...

Raquel disse...

Não li tudo que o anônimo escreveu, mas li o final:
[Que a felicidade lhe acompanhe sempre. Um dia, tenho/tenha certeza, ela compreenderá que é melhor o inferno ao seu lado do que o paraíso ao lado de qualquer outro homem da face da terra.]

Putz, espero não pensar dessa forma, espero realmente conseguir sair das relações que me põe pra baixo.

:*

Anônimo disse...

Ohhh... Não foi bem nesse sentido; explico melhor: há alguns homens que são "paradisíacos" (Entre aspas mesmo.) e, ainda assim, levam o ser à tacanhez. Há outros que, mesmo nos acompanhando ao pior dos mundos, promovem relacionamentos superiores, inimagináveis e quase inconcebíveis. O texto traz, como um todo, essa idéia: de superação das limitações que sempre, ou quase sempre, tangenciam o ser; de modificação do amor, levando este à pluralidade dos sentidos, das procuras, das expressões. Abomino relações que ponham o ser humano para baixo; nem as começo. Nem entro... Dessarte, delas não precisarei sair.