sábado, novembro 10, 2007

Introversão

Eis aqui um bom texto sobre o que é a introversão e como introvertidos se comportam. Tenho de concordar com o autor que a maior dificuldade do introvertido é se fazer entender para um extrovertido, explicar para ele que precisamos de momentos de solidão após uma interação social, que não desejamos estar na companhia de outros seres humanos o tempo inteiro e que isso não é sinônimo de gostar menos ou de frieza e muito menos de infelicidade ou tristeza. Já cansei de ver extrovertidos me olharem com aquela cara de compaixão depois de tomarem ciência dos poucos amigos que possuo ou dos longos tempos que passo sozinho na minha agradável companhia. O extrovertido simplesmente projeta sobre o introvertido o seu sofrimento ou angústia de quando está só, de quando o seu celular fica sem tocar ou receber mensagens por uma hora, levando-o quase ao pânico. A ele só me resta dizer que não tenho esse tipo de sofrimento e, por isso, sua compaixão é completamente sem sentido. No final, sou eu quem acabo ficando com pena do extrovertido pela sua falta de capacidade de se colocar no lugar do outro. O extrovertido precisa entender que o introvertido está bem quando procura a reclusão. Ou melhor, ele procura a reclusão justamente para ficar bem e sente-se feliz ao usufruí-la.

O texto também distingue apropriadamente a introversão da timidez e da misantropia. Essas características não andam necessariamente juntas em uma pessoa. Indivíduos introvertidos podem fazer discursos para grandes públicos sem um cisco de nervosismo ou apreensão. Mas certamente procurarão a reclusão após a fala. No meu caso, além de introvertido, também sou tímido, mas essa conjunção de características na minha pessoa é acidental. E não vejo em mim nada que possa me caracterizar como anti-social. Muito pelo contrário, minha calma e paciência fazem com que o meu trato com os outros, mesmo desconhecidos, seja, em princípio, bem amigável. Esses dias mesmo passei a cumprimentar o vigia de um restaurante que fica no meu caminho de retorno para casa. Eu sempre passava ali e o via e ele a mim também, por que não saudá-lo, na sua sim solidão obrigatória, labutada, talvez sofrida, com um "boa noite" ou "tudo bem"?. Sociabilidade não tem nada a ver com falar pelos cotovelos. Conheço, aliás, pessoas extrovertidas que são exageradamente irascíveis, que se deixam afetar visivelmente por qualquer contrariedade e, portanto, são muito mais anti-sociais do que eu.

Lembro quando falei pela primeira vez ao meu irmão, então com os seus 15 ou 16 anos, que eu precisava ficar só depois de passar um bom tempo mesmo com as pessoas que eu mais gostava, os familiares, os amigos ou a namorada. Ele reagiu com espanto, interpretando o meu comportamento como indício de que gostava menos dos meus familiares que eles de mim, por exemplo. Não é nada disso. Se posso colocar a matéria de uma forma clara, é essa: depois de um certo tempo interagindo com outras pessoas, sinto saudades colossais de mim, de falar comigo, de pensar comigo e, neste momento, a reclusão se torna um imperativo, uma necessidade da qual não posso, sem sofrimento, me furtar. Por sorte, o meu irmão acabou me entendendo. Infelizmente, não é sempre assim.

10 comentários:

Maria Helena disse...

Não sei, não chego a ser introvertida, mas tb preciso constantemente curtir a minha solidão. Ainda mais depois de trabalhar com o público como eu trabalho, chego em casa com vontade de mandar o mundo calar a boca, tudo o que eu quero é silêncio e não te de prestar atenção em alguém. Eu adoro gente, sair, dançar, rir, gosto muito de falar e falo bastante, mas eu preciso muito, profundamente, ficar a sós com meus pensamentos depois. Acho que quem não sente isso ou não parou para escutar suas demandas internas ou não é normal. Todo cérebro precisa de descanso.

Eros disse...

Claro que todo mundo deve precisar um pouco disso, a diferença é que o introvertido precisa muito mais desse tempo consigo mesmo. A diferença é de grau, não de tipo.

Unknown disse...

Eu sou uma introvertida que aprendeu a falar com os outros. Por causa disso, as pessoas se espantam ainda mais quando eu digo que preciso ficar sozinha. Já perdi muitas amizades por isso, porque as pessoas juravam que era algo com elas e acabavam tornando um período solitário em algo definitivo.

Maria Helena disse...

É, mas tem gente que é impressionante: grau zero ou negativo!!!!

Unknown disse...

Adorei esse blog, é uma pena que o texto anexo é em inglês.
Eu sou introvertido e sem timidez.
Pesquiso sobre introversão e psicologia há muito tempo e é a primeira vez que acho um texto distinguindo introversão e timidez.
Será que o awks não teria esse texto traduzido?!
Parabéns pela iniciativa!!!

Tiago Paolini disse...

Sei que pode parecer meio tarde para postar um comentário nesse texto, mas só agora eu o encontrei.

Gostei do fato do texto deixar bem claro que existe uma diferença entre introversão e timidez, o que não é comum. O tímido sofre por não conseguir se relacionar ou falar com outros, enquanto que o introvertido está feliz em às vezes ficar apenas consigo próprio e seu mundo.

Julgo que essa história de que alguém precisa ser mais extrovertido é apenas uma pressão social ou cultural, e não uma questão de saúde ou de moralidade. Uma psicóloga já me disse que eu tinha duas opções: tentar ser mais extrovertido o que ajudaria bastante em certas coisas pois normalmente a sociedade tipo que exige que alguém seja extrovertido, ou aprender a lidar com o fato que que outros mais "extrovertidos" não aceitam isso direito (é bom dizer que que essa psicóloga é bem experiente e sabe bem que não há problema no fato de alguém ser introvertido). Eu fiquei com a segunda opção, pois não vou mudar em mim algo que não é errado só para agradar aos outros.

Eu costumo estar comigo mesmo uma boa parte do tempo, mas consigo perfeitamente conversar com os outros e falar em público. Talvez eu não sirva para profissões como ator ou vendedor, mas sou perfeitamente capaz de seguir a minha vida.

Eu gostaria de recomendar um esse outro bom texto sobre personalidade introvertida. Apesar dele não deixar bem claro uma diferença entra introversão e timidez, ele não faz juízo de valor e esclarece muitas coisas:

Eros disse...

Olá Tiago, o texto é realmente bom, principalmente por enfatizar o papel mais acentuado da subjetividade no introvertido. Obrigado!

JANAINA disse...

Gostei muito do texto, pois me identifiquei bastante. Parece que alguém conseguiu escrever exatamente como me sinto.
Sou uma pessoa introvertida.Gosto de estar comigo, na verdade necessito disso, é como se isso me fizesse feliz, muitas pessoas não intendem me jugam egoista e sofro muita pressão por isso. A introversão acalma, equilibra. E acredito que uma pessoa só pode estar bem com os outros se você estiver bem consigo mesmo.

Eros disse...

Que bom que gostou, Janaina. Eu entendo que, para o extrovertido, possa ser o contrário também: ele só se sente bem, em geral, no meio de outros. E ele precisa entender que nós só nos sentimos bem, em geral, na ausência dos outros.

Unknown disse...

INTROVERSÃO, E DO TIPO DE PESSOA QUE SE ORIENTA-SE POR FATORES SUBJETIVOS,voltado para suas impressões acerca do mundo introspectivo,atividades solitarias,prefere ler a ouvirhesitante diante da ação necessaria reflete antes de agir controlado e ratraido busca compreender antes de se posicionar.