domingo, julho 30, 2006
Valor
O valor de uma pessoa é medido pela quantidade de memórias que existem atualmente dela. Não me refiro às memórias históricas, mas às memórias emotivas, presentes nas mentes das pessoas. Por isso, cuide para que você mesmo esteja sempre em seu coração. Se não estiver impresso no coração de mais ninguém e nem no teu, então não tens valor; é como se não existisse. Exerça a bondade, ame-se, pois só assim poderá amar o outro. Se você se abandonar, perderá a chance de ter algum valor.
sexta-feira, julho 28, 2006
Avante
A verdade é que eu sou um futurista otimista e um contemporâneo pessimista. Miro o futuro com olhos esperançosos e interpreto o presente com lentes turvas.
quinta-feira, julho 27, 2006
Esperança
Uma vez eu disse que, sem esperanças, nos tornamos bestas. Mas talvez não seja assim tão ruim ser uma besta. Muito pelo contrário. Quem não espera, não se frustra, não sente dor, não sofre. Não falo evidentemente da dor física. A vida bestial é infinitamente mais suportável. Observem. Alguém já viu um animal não-humano arquear a coluna por causa do peso de seu futuro? Não! Mas entre nós, simetria perfeita não há. Todos nós temos algum problema de coluna, por menor que seja. Ao que acham que isso se deve? Sabe, tenho medo que a minha musculatura fique exageradamente enrijecida com todos esses chutes que me dão ou que eu sinto estarem a me dar sem parar, dia após dia. Não faz muita diferença se dão ou não. Esse est percipi, já dizia o filósofo. Como, como então arrancar do peito toda essa esperança que transborda em mim e que me pune e me fustiga diariamente?
quarta-feira, julho 26, 2006
Morte
Algumas pessoas morrem para doar a própria vida, outras pessoas doam a própria vida para morrer.
segunda-feira, julho 10, 2006
Vento
Eu corro para sentir o toque suave e gelado do vendo sobre a minha face. Depois de avaliar bem o caminho, fecho os olhos, por alguns poucos segundos, para me concentrar nesta sensação. É como uma mão doce a me acariciar. Não é quente como a humana, mas é terna e envolvente. É o afago da mãe natureza.
domingo, julho 09, 2006
Culpa
É preciso muita força de vontade para expurgar-se de todos os pensamentos ruins. A natureza humana falhada é um golpe natural contra a virtude. O caminho que preciso percorrer ainda é muito longo. Mesmo não vendo, no horizonte, qualquer chegada, continuarei firme. Mas hoje senti que me desviei um pouco da rota. Angustiei-me. Ouço os violoncelos de Bach e é como se eles não estivessem contentes comigo. O som está áspero, corta-me a carne, a alma.
sábado, julho 08, 2006
Só
Só se sente só quem alimenta a sua própria solidão. Só se sente só quem espera que alguém venha assisti-lo. Ora, mas se você já tem um espectador fiel, disponível 24 horas do dia, compreensivo e íntimo, por que depositar tanta ansiedade em uma assistência externa inconstante, ausente, estranha e truculenta? Rodopeie os ouvidos e os olhos em 180 graus e assista o seu próprio espetáculo. Dê-se o alento, o carinho e a atenção de que precisa. Sim, reuna forças, pois é mais fácil lamentar e se ruir sobre a fraqueza. Não seja um fraco tentando conquistar a atenção alheia pela compaixão. Não se humilhe. Simplesmente seja, exista para si e em si.
Sentido
Ontem me perguntaram o que eu fiz ao longo da minha vida toda. Essa é uma pergunta que atordoa, pois inicialmente ficamos tentados a buscar na memória grandes feitos e, não os encontrando, corremos o risco de julgar a própria vida sem sentido. Resolvi, então, indagar o que são grandes feitos. Realizações que, por um motivo ou outro, são elegíveis ao registro histórico? Três ou dois mil anos atrás, atos heróicos em uma batalha eram elegíveis ao registro histórico. Alexandre, Cézar e Átila são por isso lembrados. Hoje tais atos não são mais elegíveis, muito embora, em qualquer batalha moderna, ainda haja um ou outro a agir brava e heroicamente. Em uma sociedade centrada no conhecimento, descobertas científicas são mais elegíveis ao registro histórico. Sim, hodiernamente, um grande feito seria descobrir uma vacina para a AIDS, unificar a física quântica e a da relatividade ou solucionar alguns dos problemas matemáticos formulados por Hilbert no século passado. Não há, assim, grandes feitos em absoluto. Natural que seja assim. Feitos há aos montes e qualquer vida terrena realiza vários deles. "Grande", "pequeno" ou "insignificante" são adjetivos que lhes iremos aplicar conforme a nossa ordem de valores. Minha vida é insignificante se procurar nela realizações científicas de grande feitura. Nem eu busco engrandecê-la com tais realizações. Por outro lado, minha vida está longe de ser insignificante aos meus olhos se a julgo como uma busca por humanização. A busca por um sentido é incessante, mas há tantos recortes possíveis que encontrar um sentido único e preciso é tão difícil quanto não encontrar nenhum. Com olhos bem abertos, cada um pode encontrar o seu caminho. E eu não preciso de holofotes sobre mim para merecer a luz do sol.
sábado, julho 01, 2006
Atenção
Todos estão cansados de saber o quanto essa cena é freqüente, essa que narrarei logo em seguida. Mas saber é uma coisa, perceber o seu impacto emocional, é outra. Quem a vê, sente melhor o quanto essa situação é ruim. Lá estavam eles desfrutando o almoço. Ela tinha olhos meigos e carentes. Olhos de quem se sentia constrangida. Olhava para o prato, comia, olhava para o marido, mas, como este não a olhava, ela procurava, ao redor, pessoas que estivesse percebendo a sua falta de atenção. Assim ela me viu algumas vezes. Este ciclo repetiu-se durante uns quarenta minutos. O tempo inteiro permaneceram calados. Mas ele não falava por ter o silêncio como hábito. A razão do seu silêncio era uma atenção muito bem dirigida. Logo acima dele, havia uma televisão, onde passava um jogo de futebol. Não, não era um jogo do Brasil e, se fosse, também não justificaria o seu comportamento. Ele impassível, ela envergonhada. E eu me perguntava, como, como não dar atenção gratuitamente, sem esforço, mas com prazer, a quem lhe quer e que supostamente você ama?
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