sábado, julho 08, 2006
Sentido
Ontem me perguntaram o que eu fiz ao longo da minha vida toda. Essa é uma pergunta que atordoa, pois inicialmente ficamos tentados a buscar na memória grandes feitos e, não os encontrando, corremos o risco de julgar a própria vida sem sentido. Resolvi, então, indagar o que são grandes feitos. Realizações que, por um motivo ou outro, são elegíveis ao registro histórico? Três ou dois mil anos atrás, atos heróicos em uma batalha eram elegíveis ao registro histórico. Alexandre, Cézar e Átila são por isso lembrados. Hoje tais atos não são mais elegíveis, muito embora, em qualquer batalha moderna, ainda haja um ou outro a agir brava e heroicamente. Em uma sociedade centrada no conhecimento, descobertas científicas são mais elegíveis ao registro histórico. Sim, hodiernamente, um grande feito seria descobrir uma vacina para a AIDS, unificar a física quântica e a da relatividade ou solucionar alguns dos problemas matemáticos formulados por Hilbert no século passado. Não há, assim, grandes feitos em absoluto. Natural que seja assim. Feitos há aos montes e qualquer vida terrena realiza vários deles. "Grande", "pequeno" ou "insignificante" são adjetivos que lhes iremos aplicar conforme a nossa ordem de valores. Minha vida é insignificante se procurar nela realizações científicas de grande feitura. Nem eu busco engrandecê-la com tais realizações. Por outro lado, minha vida está longe de ser insignificante aos meus olhos se a julgo como uma busca por humanização. A busca por um sentido é incessante, mas há tantos recortes possíveis que encontrar um sentido único e preciso é tão difícil quanto não encontrar nenhum. Com olhos bem abertos, cada um pode encontrar o seu caminho. E eu não preciso de holofotes sobre mim para merecer a luz do sol.
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