domingo, junho 18, 2006

Nascimento

Minha mãe diz que praticamente não chorei ao nascer. A verdade é que eu estava ansioso para observar o mundo e meus berros seriam um obstáculo. Fiquei ali, em silêncio, observando aqueles que me observavam, buscando absorver ao máximo a nova realidade que me impactava; sintonizava cada um dos meus canais perceptivos no que tinham para me ofertar. Deslumbrei-me com o mundo. Mas esta escolha fundamental que eu fiz, ao nascer, teve conseqüências. Naquele instante, fixei a minha atitude mais de observador e menos de agente diante do mundo. Escolhi a percepção em detrimento da ação. Sim, é verdade, preciso agir para potencializar a minha percepção. Mas o seu máximo demanda apenas um mínimo de ação. Tivesse eu urrado ao nascer, tivesse eu me deslumbrado não com o mundo, mas com a minha força, com a minha vontade, eu seria hoje uma pessoa completamente diferente. Eu não lamento. Os dois modos de ser, quando vividos intensamente, são autênticos. Mas eu me escolhi, ali, naquele instante em que nasci.

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