quarta-feira, setembro 15, 2010

Dos arrogantes

Há dois tipos de pessoas arrogantes, os verdadeiramente sábios e os idiotas. Os primeiros se tornam arrogantes por cansaço. Começam pacientes, visto que almejam levar sua sabedoria aos menos dotados. Com o tempo, porém, percebem que a delicadeza raramente é efetiva na transmissão do saber. Os menos dotados parecem sentir prazer em serem arrebatados por certezas, não têm a persistência para acompanhar um raciocínio longo e complexo, ainda que dividido didaticamente em passos bem simples. Querem já o resultado. Bater violentamente, assim, parece ter mais efeito, ainda que o resultado seja a absorção de fórmulas que não entendem, mas, nem por isso, inválidas. Como os sábios estão majoritariamente cercados de bestas e precisam lidar com elas o tempo todo, acabam fazendo da arrogância um hábito, o qual, contudo, não se retém quando estão apenas entre iguais. Se sábios só vivessem entre sábios, esse vício não lhes tentaria. Já o idiota se transforma no tipo mais bestial de arrogante por ignorar a sua idiotice e manter, justamente por isso, as crenças elevadas mais estapafúrdias a seu próprio respeito. São como cegos andando pelas ruas sem bengalas. Só causam incômodo e aborrecimento. Quanto menos ciência têm da sua cegueira, mais peremptório é o seu passo. Não há como se lhes opor, nem o que lhes dizer, também são surdos. O melhor a fazer é se desviar. Mas são tantos que uma hora também precisamos lhes bater energicamente. Só assim tomam ciência de uma realidade que se lhes opõe. Mas pouco fazem disso também. Não há cura para eles. Entre esses dois extremos de arrogantes há uma pequena classe média de inteligentes, ávidos de saber o suficiente para acompanhar as longas e minuciosas explicações dos sábios, e pacientes o bastante para tolerar a intolerância das bestas, refreando-as quando necessário e possível.

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