Nunca curti e continuo não curtindo este meio de comunicação. Ele não respeita as pausas, a necessidade de ficar calado. Mesmo numa conversa ao vivo, é aceitável alguma espera quando se é interpelado e, se não for, podemos forçá-la com alguma ação, pegar um livro, beber uma água etc. Ao telefone, não há nada que se possa fazer para parecer razoável a quem está do outro lado da linha a sua delonga em responder. O telefone é todo centrado na audição, não há como distraí-lo por meio dos outros sentidos. Enfim, não acho que dê para conversar a sério pelo telefone. Eu não sou o tipo de pessoa que pensa o que fala, mas que fala o que pensa e, por isso, preciso de tempo no ir e vir da conversa. Telefone para mim não passa de um telegrama sofisticado e instantâneo, serve para trocar informações, dar um aviso, marcar um encontro e só.
O orientando queria evitar um encontro na universidade pedindo-me para discutir o seu trabalho pelo telefone. Sem chances, ou deixa de preguiça e escreve suas dificuldades por email, o que eu até prefiro, ou vem até a mim para dizê-las ao vivo.
sábado, janeiro 30, 2010
domingo, janeiro 24, 2010
Nenhum contato social é bom! Pra mim!!!
Não adianta dizer que há um problema comigo, que perco todo um universo rico se não me exponho ao contato social, nada disso muda o fato incontestável: sair do twitter, não ligar o msn, google talk etc. me deixa mais em paz, faz-me não ficar ciente de todo um mundo de bestialidades que só servem para tirar a minha tranqüilidade. Outro resultado colateral: me torno mais produtivo, faço outras coisas que me dão mais prazer e, por conseguinte, mais satisfeito comigo mesmo. O computo geral é todo positivo.
Enfim, não recomendo a solidão para todo mundo não. Eu sou um caso particular de introversão. Nem estou de todo só, tenho a Marcely como companheira de todos os dias, o que me possibilita emocionalmente ignorar quase que por completo todo o resto da humanidade. Desta quero apenas a sua excelência transmutada em livros, obras de arte, bom humor etc.
Enfim, não recomendo a solidão para todo mundo não. Eu sou um caso particular de introversão. Nem estou de todo só, tenho a Marcely como companheira de todos os dias, o que me possibilita emocionalmente ignorar quase que por completo todo o resto da humanidade. Desta quero apenas a sua excelência transmutada em livros, obras de arte, bom humor etc.
terça-feira, janeiro 12, 2010
Meu título não vale nada, nem o teu, nem o de ninguém!
Vai aqui a minha "resposta" à postagem da Caminhante.
Pra mim, pouco importa se o título é obtido com 30, com 20 ou com 80 anos. O título em si não é algo que eu admire. O que a pessoa faz, e nisso incluo não só o que ela escreve, mas também as suas atitudes, e cada vez mais as suas atitudes, é o que pode ser alvo da minha admiração.
Bom, o que a pessoa faz não depende de um título. Muitos fazem sem ele e muitas vezes fazem até melhor do que com ele. Mas eu fico no "muitas vezes". Não acho que o acadêmico ultra joven especializado seja em si um cocô humano, nem que o gênio marginal idoso seja em si um santo, um Gandhi, sempre admirável.
Também não consigo ver, diante da variedade humana, como possa haver um único ou melhor caminho seja lá para o que for. Alguns são Saramagos e demonstram o seu melhor só tardiamente, outros são S. Mills e demonstram o seu melhor bem cedo; mas isso não faz do Stuart Mill mais admirável que o Saramago. Há tantos tempos quanto pessoas. Nem quero entrar na questão mais espinhosa do vácuo que muitas vezes há entre mostrar o seu melhor e ele ser percebido.
Concordo que alguém que nunca tenha sofrido um revés na vida tende a ser menos humano se não compensa a falta de frustração e sofrimento com muita imaginação dos mesmos. Porém, ter uma carreira acadêmica meteórica não exclui de modo algum dezenas de outros reveses que o sujeito possa ter tido em centenas de outros setores da sua vida, revezes estes que certamente contribuiriam para a sua humanização tanto quanto os reveses acadêmicos, em muitos casos, até mais. Também não podemos nos esquecer dos inúmeros casos de pessoas que são, por alguma razão desconhecida, completamente refratárias aos reveses, elas não mudam nada, não aprendem nada, continuam as mesmas. E tem aquelas que não só não se humanizam, como se tornam ainda mais amargas. Não há dose certa de revés para a humanização sem uma boa dose de sorte psíquica.
Algo também para lembrar: até 20 anos atrás, era normal, NO Brasil, o acadêmico adquirir o seu título de doutor só aos 40 ou 50 anos. Agora, entre os 25 e 35. O que mudou? As pessoas ficaram mais obsecadas com o sucesso acadêmico e por isso começaram a antecipar o que naturalmente só iria se adquirir lá no meio ou no final da vida? Não acho que seja isso. Simplesmente que até 20 anos atrás existiam poucos programas de doutorado no país, então, de duas uma, ou você ia para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campinas, quiça Porto Alegre ou ia para fora do país, se quisesse o título de doutor. Levando em conta que aos 25, 30, freqüentemente você já não é mais uma unidade que decide tudo sozinho, conversando com o próprio umbigo, qualquer uma das opções envolve empecilhos que só com muito acordo, suor e tempo para superar. Nos EUA, já era muito comum ver doutores com 30 anos desde a década de 30. A partir do momento em que começa a ter programas de doutorado em tudo quanto é lugar, é natural que se antecipe a aquisição do título. Fica mais fácil. Simples assim.
Por que adquirir o título? Ele em si é valioso? Tem gente que acha, tem gente que o ostenta nas paredes, que pensa que ele é um signo confiável da sua inteligência ou mesmo do seu esforço. Eu não acho nada disso. Envolve algum esforço e disciplina sim, mas nada que vá além do esforço que outras pessoas fazem em outras áreas para adquirir outras coisas. Enfim, título acadêmico não é algo que procuro numa "carta" de apresentação, nem vou admirar mais uma pessoa por saber que ela possui um.
Então, pra final de conversa, o que eu avalio é a atitude. Se o camarada procurou o título de doutor pelas honrarias sociais, direi que isso é tolo. Se ele almeja um emprego de professor universitário, e almeja isso menos pelo status social e mais pelo prazer em exercer essa profissão, ou, quem sabe, nenhuma das duas coisas, mas o salário que é pago por esta profissão, então corra logo atrás dos títulos necessários. O título de doutor vale exatamente isso: um emprego. Se achamos isso certo ou não, se achamos que a carreira acadêmica deveria ser completamente reformulada, mudando ou eliminando as etapas de aquisição de títulos, é absolutamente outra questão.
Meu caso pessoal: o que me fez adquirir sem interstícios os títulos de mestre e doutor não foi nem as honrarias, muitos que me conheceram só tardiamente vieram a saber deles, freqüentemente por terceiros, nem a vontade de ser logo professor universitário, algo que, por muito tempo, duvidei ser capaz de ser, mas simplesmente por, estando sozinho e sem grandes ambições intelectuais e financeiras, ter encontrado nas bolsas governamentais algo que, ao mesmo tempo, satisfazia as minhas necessidades imediatas de sobrevivência e prazer. Meu pai foi enfático quando decidi fazer a graduação de filosofia: "não te dou um centavo depois que terminar a graduação". Quando o final do curso foi se aproximando, não havia outra opção, mestrado na certa. Filosofia, nessa época, nem era ainda obrigatória no ensino médio, alguns colégios particulares tinham a disciplina, mas era muito mais difícil penetrar neste escasso mercado que numa vaga de mestrado na cidade em que morava. Do mestrado para o doutorado a lógica foi a mesma: mais fácil entrar no doutorado que entrar no mercado de professores universitários em universidades particulares. Ganho menos mas continuo fazendo algo que gosto: ler e pesquisar.
O percurso também não foi de todo sem percalços. Sem muita fé de que poderia enfrentar a minha timidez e ser mesmo professor, quase larguei o doutorado, na verdade, por 6 meses eu o larguei, quando desentendimentos com o orientador impediram a qualificação final e, por conseguinte, a defesa. Neste meio tempo, atinando para outros prazeres meus, comecei outra graduação, mas isso já é outra história.
Enfim, se me perguntassem no início da graduação de filosofia se eu me via onde estou hoje, estaria mentido se dissesse que sim. Muitos acasos, escolhas, derrotas e vitórias me trouxeram até aqui. Nunca tracei e nunca traçarei grandes metas para minha vida a não ser esta: tentar fazer com que ela pareça ter cada vez mais sentido para mim; o que também pode ser um grande engodo, talvez só haja o absurdo...hei de descobrir, ou não...
Pra mim, pouco importa se o título é obtido com 30, com 20 ou com 80 anos. O título em si não é algo que eu admire. O que a pessoa faz, e nisso incluo não só o que ela escreve, mas também as suas atitudes, e cada vez mais as suas atitudes, é o que pode ser alvo da minha admiração.
Bom, o que a pessoa faz não depende de um título. Muitos fazem sem ele e muitas vezes fazem até melhor do que com ele. Mas eu fico no "muitas vezes". Não acho que o acadêmico ultra joven especializado seja em si um cocô humano, nem que o gênio marginal idoso seja em si um santo, um Gandhi, sempre admirável.
Também não consigo ver, diante da variedade humana, como possa haver um único ou melhor caminho seja lá para o que for. Alguns são Saramagos e demonstram o seu melhor só tardiamente, outros são S. Mills e demonstram o seu melhor bem cedo; mas isso não faz do Stuart Mill mais admirável que o Saramago. Há tantos tempos quanto pessoas. Nem quero entrar na questão mais espinhosa do vácuo que muitas vezes há entre mostrar o seu melhor e ele ser percebido.
Concordo que alguém que nunca tenha sofrido um revés na vida tende a ser menos humano se não compensa a falta de frustração e sofrimento com muita imaginação dos mesmos. Porém, ter uma carreira acadêmica meteórica não exclui de modo algum dezenas de outros reveses que o sujeito possa ter tido em centenas de outros setores da sua vida, revezes estes que certamente contribuiriam para a sua humanização tanto quanto os reveses acadêmicos, em muitos casos, até mais. Também não podemos nos esquecer dos inúmeros casos de pessoas que são, por alguma razão desconhecida, completamente refratárias aos reveses, elas não mudam nada, não aprendem nada, continuam as mesmas. E tem aquelas que não só não se humanizam, como se tornam ainda mais amargas. Não há dose certa de revés para a humanização sem uma boa dose de sorte psíquica.
Algo também para lembrar: até 20 anos atrás, era normal, NO Brasil, o acadêmico adquirir o seu título de doutor só aos 40 ou 50 anos. Agora, entre os 25 e 35. O que mudou? As pessoas ficaram mais obsecadas com o sucesso acadêmico e por isso começaram a antecipar o que naturalmente só iria se adquirir lá no meio ou no final da vida? Não acho que seja isso. Simplesmente que até 20 anos atrás existiam poucos programas de doutorado no país, então, de duas uma, ou você ia para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campinas, quiça Porto Alegre ou ia para fora do país, se quisesse o título de doutor. Levando em conta que aos 25, 30, freqüentemente você já não é mais uma unidade que decide tudo sozinho, conversando com o próprio umbigo, qualquer uma das opções envolve empecilhos que só com muito acordo, suor e tempo para superar. Nos EUA, já era muito comum ver doutores com 30 anos desde a década de 30. A partir do momento em que começa a ter programas de doutorado em tudo quanto é lugar, é natural que se antecipe a aquisição do título. Fica mais fácil. Simples assim.
Por que adquirir o título? Ele em si é valioso? Tem gente que acha, tem gente que o ostenta nas paredes, que pensa que ele é um signo confiável da sua inteligência ou mesmo do seu esforço. Eu não acho nada disso. Envolve algum esforço e disciplina sim, mas nada que vá além do esforço que outras pessoas fazem em outras áreas para adquirir outras coisas. Enfim, título acadêmico não é algo que procuro numa "carta" de apresentação, nem vou admirar mais uma pessoa por saber que ela possui um.
Então, pra final de conversa, o que eu avalio é a atitude. Se o camarada procurou o título de doutor pelas honrarias sociais, direi que isso é tolo. Se ele almeja um emprego de professor universitário, e almeja isso menos pelo status social e mais pelo prazer em exercer essa profissão, ou, quem sabe, nenhuma das duas coisas, mas o salário que é pago por esta profissão, então corra logo atrás dos títulos necessários. O título de doutor vale exatamente isso: um emprego. Se achamos isso certo ou não, se achamos que a carreira acadêmica deveria ser completamente reformulada, mudando ou eliminando as etapas de aquisição de títulos, é absolutamente outra questão.
Meu caso pessoal: o que me fez adquirir sem interstícios os títulos de mestre e doutor não foi nem as honrarias, muitos que me conheceram só tardiamente vieram a saber deles, freqüentemente por terceiros, nem a vontade de ser logo professor universitário, algo que, por muito tempo, duvidei ser capaz de ser, mas simplesmente por, estando sozinho e sem grandes ambições intelectuais e financeiras, ter encontrado nas bolsas governamentais algo que, ao mesmo tempo, satisfazia as minhas necessidades imediatas de sobrevivência e prazer. Meu pai foi enfático quando decidi fazer a graduação de filosofia: "não te dou um centavo depois que terminar a graduação". Quando o final do curso foi se aproximando, não havia outra opção, mestrado na certa. Filosofia, nessa época, nem era ainda obrigatória no ensino médio, alguns colégios particulares tinham a disciplina, mas era muito mais difícil penetrar neste escasso mercado que numa vaga de mestrado na cidade em que morava. Do mestrado para o doutorado a lógica foi a mesma: mais fácil entrar no doutorado que entrar no mercado de professores universitários em universidades particulares. Ganho menos mas continuo fazendo algo que gosto: ler e pesquisar.
O percurso também não foi de todo sem percalços. Sem muita fé de que poderia enfrentar a minha timidez e ser mesmo professor, quase larguei o doutorado, na verdade, por 6 meses eu o larguei, quando desentendimentos com o orientador impediram a qualificação final e, por conseguinte, a defesa. Neste meio tempo, atinando para outros prazeres meus, comecei outra graduação, mas isso já é outra história.
Enfim, se me perguntassem no início da graduação de filosofia se eu me via onde estou hoje, estaria mentido se dissesse que sim. Muitos acasos, escolhas, derrotas e vitórias me trouxeram até aqui. Nunca tracei e nunca traçarei grandes metas para minha vida a não ser esta: tentar fazer com que ela pareça ter cada vez mais sentido para mim; o que também pode ser um grande engodo, talvez só haja o absurdo...hei de descobrir, ou não...
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