Quando o aluno vem me entregar a prova e diz defensivamente, "professor, não sou analfabeta, mas essas palavras 'premissa', 'conclusão', 'inferência', 'argumento' ainda me deixam muito confusa, como muitos aqui, ainda não tive aula de lógica", meu chão cai por completo, não por achar que eu não tenha feito o meu serviço didático direito, posso até não ter feito, mas por outros motivos; essas quatro palavrinhas "misteriosas" não é algo que só se aprende num curso de lógica, são palavras úteis para a apropriação ou interpretação de qualquer texto científico/teórico/jornalístico/informativo e que deveriam ter sido introduzidas à aluna antes mesmo dela entrar na universidade pela sua professora de português e reforçada e exemplificada por todos os outros professores das ciências específicas: histórica, geografia, matemática etc. Confuso fico eu tentando imaginar a maneira confusa através da qual ela enxerga as relações entre as ideias de um texto que lê...Esses choques de realidade são bons para me fazer perceber que, às vezes, posso estar estimando as capacidades dos alunos erroneamente. É bom por forçar-me a fazer malabarismos para passar o básico junto com o essencial. É ruim se me tenta a baixar o nível do mínimo.
quinta-feira, outubro 15, 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Eu imagino a sua perplexidade e fico triste que a formação intelectual das pessoas seja tão deficiente. Há coisas que se perdem em gerações inteiras e talvez se recuperem nas seguintes. Mas nós não estaremos aqui para ver. E ainda sinto muito pelo o outro o que ele nunca teve e que eu tive, como se ele não soubesse o valor inestimável que lhe foi roubado.
Malditas professoras de português do ensino fundamental! xD
Eu concordo que parece meio difusa a forma como ela lida com um texto, mas imagino que ela deva entender mesmo assim, mesmo sem o conceito... Só não sei se desse ponto de vista filosofia é o curso mais correto ou mais errado de ela estar xD
Nunca aprendi essas palavras na escola, não me lembro, lembro de ter aprendido na vida, na leitura.
Infelizmente essas pessoas não tem pais letrados, nem convivência com alguém que tenha conhecimento de cultura erudita, isso dificulta muito o acesso também.
E como professor a gente sempre pressupõe muita coisa e depois vê que ta errado... por isso é sempre bom perguntar: alguma dúvida? Alguma dúvida? Tinha um professor de matemática que fazia isso quase de tique nervoso. Eu me esqueço muito frequentemente. Sorte que quando eu falava algo estranho pra eles, eles não sentiam tão envergonhados de me perguntar, pelo contrário, eles achavam engraçada a palavra nova e falavam: "mas o queee?"... acho que eu deixava eles à vontade pra brincar e serem eles mesmos ^^... Agora num ambiente acadêmico já é mais difícil ter esse tipo de atitude, também...
Isso faz pensar também o quão pouco aprendemos o que é argumentar na nossa vida escolar e ficamos a maior parte do tempo aprendendo a ser passivas ovelhinhas, porque o que tinham que inventar já foi inventado e a gente não passa de meros recipientes de conhecimento (mais ou menos a lógica dos seus tais uspianos)...
Postar um comentário