sexta-feira, outubro 30, 2009

Autoengano.

Eu me engano, você se engana, ele se engana, ela se engana, todos se enganam praticamente o tempo inteiro. Entendemos que aqueles que nos elogiam são pessoas confiáveis, competentes e respeitáveis, enquanto aqueles que nos criticam são pessoas incompetentes e desprezíveis. Nos alistamos em grupos, dos mais variados temas e tipos, para que chegue aos nossos ouvidos o reforço daquilo que já cremos. Criamos milhares de teorias conspiratórias para explicar nosso insucesso. É sempre muito mais provável que intenções e forças malignas se interponham à realização de nossas vontades do que não termos simplesmente os recursos físicos e mentais para realizá-las. Quando o elogio alheio não é suficiente para reforçar a crença no quão bom somos, nos autoelogiamos, nos aproximamos dos mais fracos e fazemos comparações. Montamos estratégias de propaganda, alardeamos os nossos feitos, enfatizamos que são nossos, só nossos, mas atenuamos os nossos fracassos, estes são relatados sempre com ressalvas, não são muito nossos. É claro que todo esse campo de força fabricado é útil (até um certo ponto) para a sobrevivência. Nos mantém fortes, convictos, otimistas, esperançosos. Mentiras úteis, enfim. Porém, este campo esconde uma dolorosa verdade: somos tão fracos que simplesmente não nos aquentamos, não queremos nos ver no espelho. Quase nunca nos enfrentamos, quase nunca nos deixamos estar a sós conosco mesmos. Estamos, na maior parte do tempo, com um outro. E não é por fingimento, não estou falando da baboseira metafórica das máscaras, falo algo muito simples: estar honesta e sinceramente com um outro, distante de si, é o modo que a nossa espécie miserável encontrou para sobreviver. Este truque dissociativo, no entanto, pode ser visto como aquilo de que temos de mais forte, é o nosso trunfo.

3 comentários:

Caminhante disse...

Eu sou do tipo que sempre se auto-critica. Não sei se isso me torna uma pessoa melhor - mas com certeza me torna insegura.

Ó vida.

Eros disse...

Eu também, só que a auto-crítica também pode ser enganosa, quando, então, se traveste de autoelogio em um segundo nível. E também acho que o seu alcance é muito limitado. Mesmo quando não é enganosa, ela ainda revela muito pouco.

O melhor que dá para fazer é regular a auto-crítica com a crítica externa e vice-versa.

Unknown disse...

Bom, se você faz isso, o problema é seu.
Eu sei que eu não faço, porque meus amigos disseram que não e você mesmo sabe, você que convive comigo o dia inteiro... xD
(Adorei o texto! Uma verdade pouco explorada)