sexta-feira, abril 10, 2009

De quando o amor/amizade se transforma em ódio/inimizade

Quando acontece? Como acontece? Por que acontece? Pode-se dizer que não havia
antes amor ou amizade genuínos, quando muito simulacros deles, ou, ao
contrário, justamente por serem genuínos é que o ódio e a inimizade
puderam vir à tona? O que acontece na transição? 

A minha tese é a de que, nestes casos, o ódio é uma forma menos dolorida
de se representar a perda. Justamente por alguém significar muito para
você é que, na eminência de vê-la rompendo contigo, você recruta todos
os motivos lembráveis de suas história com ela que corroboram a visão de
que ela é uma pessoa odiável, desprezível e que não merecia a sua
atenção. Dói muito mais a ausência de alguém querido do que a ausência
de alguém odiado. Quando a representação odiosa da pessoa se consolida,
você não só não vê como não sente tanta necessidade de lamentar a
perda. E quanto mais as duas pessoas envolvidas na transformação do amor
em ódio concretizam o seu ódio mútuo, quanto mais elas se ferem pelo
desprezo, mais elas facilitam o processo de lidar com a perda e menos
sentirão a dor da ausência. Sempre que uma lembrar da outra, o fará pela
modalidade odiosa, isto é, a imagem da pessoa lembrada estará
emotivamente carregada de repulsa, o que é suficiente para impedir que os
sentimentos da saudade e da falta despertem. Representar o amado pelo
ódio é, assim, uma forma de mitigar a dor engendrada pela ausência do
amado.  

Para evitar confusão, não estou dizendo que sempre chegamos a odiar
alguém é porque a amamos antes. Não, em muitos casos, não gostamos da
pessoa desde o início. Se a percebemos desde o início como uma pessoa
chata, como alguém que incomoda, então desde o início vamos detestá-la,
odiá-la ou na melhor das hipóteses meramente tolerá-la. Enfim, o vir a
odiar pode ter causas diversas.  

Esta tese, no entanto, explica como acontece e o que fomenta a
transformação de amizade em inimizade, de amor em ódio. Não explica ou
não detalha o que causa esta transformação. Dei uma pista: a percepção
(verídica ou não) do rompimento eminente. Pode explicar alguns casos,
mas não todos. E mesmo aqueles que explica, o faz de modo impreciso. Há
certamente mais coisas envolvidas. Como algo supostamente tão firme e
sólido pode desmoronar tão rapida e definitivamente?

2 comentários:

Caminhante disse...

Nos casos que eu vivi assim, não eram amizades comuns. Eram amizades ambígüas, que eu sentia frágeis. Eu meio que não sabia o porquê daquela pessoa ser minha amiga. Ao mesmo tempo que me adorava, às vezes a pessoa soltava alguns gestos bastante agressivos. Hoje sou capaz de olhar uma amizade (ou um tipo de amigo) e saber se ela vai virar ódio ou não.

Marcely Costa disse...

você tem razão. u.u