
Eu diria que ela é uma artista coloral. Suas cores estão sempre em rica harmonia, cintilando meus olhos, me fazem lembrar das caixas de lápis de cor e massinha que ganhava quando criança no início das aulas. Passava horas contemplando a beleza das cores lado a lado, o azul celeste, o azul turquesa das águas das piscinas, o amarelo sol, o verde grama, o marrom tronco, o beje azulejo, o vermelho telhado, o cinza nuvem, infantil mesmo nas representações; as massinhas em barrinhas retangulares, macias de apertar, demorava-me enamorando-as antes de partir para a destruição tatual, gostava de fazer cobrinhas coloridas. O ciclo da massinha lembra o ciclo das vivências. Primeiro você se deslumbra com a nitidez e diversidade das cores, a novidade colorida. Depois a frustração entediante da massa acinzentada. Perdemos o interesse com o igual das coisas. Ela porém nunca se acinzenta diante dos meus olhos, mesmo na sua versão menos viva e colorida, ela desperta a reação de todos os meus bastonetes. Ela tem sede de cores invisíveis, de cores que não existem ou simplesmente de cores que estão além do nosso infante aparelho visual. Quantas lágrimas não pipocam dos seus olhos verde-negros borrados pela impercepção de todas essas cores transcendentes. Se pudesse, lhe daria uma caixa de lápis de cor com todas essas cores inomináveis. Eu que sempre fui muito cinza por fora e por dentro, tenho me sentido bastante colorido, tanto que até ela suspeita do meu acinzentado passado. Diz-me que era conversa fiada minha. Não era. Só que com o seu colorido presente tão vivo diante dos meus olhos, eu me esqueço do cinza de ontem e ignoro o de amanhã. Se alguma vez transpareci irritar-me com ela, confesso-o, foi comigo que me irritei profundamente por não conseguir irradiar uma nova cor que lhe despertasse o sorriso.