sábado, março 01, 2008

In-verdades à trois

- Hoje em dia todo mundo acha que pode dar palpite sobre qualquer coisa, todo mundo tem a sua opinião sobre qualquer assunto.
- É verdade...
- Você começa a discutir um assunto com uma pessoa e ela já vem logo te calando: "você tem a sua opinião, e eu tenho a minha". E o que é pior, ela acha que tanto você quanto ela estão corretos.
- E num é? (concordando em tom irônico com a indignação).
- É um absurdo. Se eu digo uma coisa, e a outra pessoa diz o contrário, ou eu, ou ela está correto.
- Evidentemente...(que tolinho, pensa secretamente)
- Assim fica tudo muito fácil e todo mundo vai para casa com ares de sabichão.

Sim, sim, a senhorita Verdade é uma mocinha muito da metida e vaidosa, difícil de ser conquistada, os mais céticos diriam impossível obter o seu coração, quanto muito a sua atenção; já os relativistas, gozadores da vida, chamam de "Verdade" a rapariga mais barata da esquina, e enfiando a mão no bolso, saem de mãos dadas cada qual com a sua. Desfilam esnobes pelas ruas.

Há verdades psicológicas por trás disso tudo. Como vamos chamar esse senhor que anda atrás de uma moça que nunca viu e que acredita piamente ser capaz de reconhecê-la quando lhe pousar as vistas? Que sabe ele dela? Na verdade, nada, nem mesmo se ela existe, embora já tenha se convencido da sua existência e delire com a sua virgindade. Parece que nasceu com essa convicção inscrita no peito. Na sua alma, notamos o carimbo da sua verdade psicológica: sonhador frustrado. Refugiando-se em seus sonhos e delírios, ele vive até com uma certa animação a sua frustração diária do desencontro.

Esse senhor tem um amigo, um falso amigo, para dizer a verdade, que anda em sua companhia para tudo quanto é lado: o cético. Este aí não passa de um fingidor, minha gente. No fundo, bem secretamente, ele não acredita que a moça perseguida pelo seu amigo exista. Mas ele jamais lhe confessa tal coisa. Faz justamente o contrário. Ele pega na mão do amigo, meio assim viadinho mesmo, e sai com ele pelas ruas fingindo que a procura também, mas sua intenção secreta é destilar o sadismo e rir-se por dentro com a frustração do amigo. Sempre que o vê arregalando os olhos cheios de esperança diante de uma moça, ele chega bem pertinho do seu ouvido com uma dúvida penetrante. Que prazer sente em vê-lo chorar! Tanto ódio só por invejar a esperança do amigo e apenas nesse ódio encontra o sentido da sua existência parasitária.

Que sujeirada! O relativista é um piolho de puteiro, o sonhador, um lunático frustrado e o cético, um infiel invejoso! Que balbúrdia! Você me coloca o relativista para falar do cético, o cético, do sonhador e o sonhador, do relativista. Opa, e agora, quem está falando? Isso não é justo, quem ficará com a palavra final? Ora, pouco importa. Na memória da platéia, vence quem gozou mais.

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