quinta-feira, março 06, 2008

Homem vai na barbearia. Ponto.

Desde que cheguei nessa cidade meu hábito de cortar o cabelo ficou embotado. Aqui na minha quadra, há três salões, um deles supostamente unissex, pelo menos tem uma placa lá que o intitula assim. Por uma questão de comodidade, passei a freqüentá-lo, porém apenas de quatro em quatro meses. Nada contra o corte, que é bem feito até. O que me desmotiva a ir lá é o seu público majoritariamente feminino. Do sexo masculino, além de mim, só vi lá uma vez um menininho de uns 6 anos. Antes mesmo de chegar na porta fico envergonhado, a cara se avermelha ainda mais quando entro e todas aquelas mulheres me encaram interrogativas, como se eu fosse um criminoso por estar ali. "O que você deseja?". Fazer a unha do pé é que não, né minha cara?

Então que essa semana eu precisava cortar o cabelo, com esse calor, não o suporto muito grande. Acordei bem cedo para ver se encontrava o salão ainda vazio, só que exagerei na antecipação, estava fechado. Resolvi dar uma volta no quarteirão, passei ali no Mercado Municipal e lá dentro deparei com uma barbearia. Opa, vamos tentar, logo pensei. Entrei e sentei na poltrona de espera. Um sujeito nos seus 40 anos estava já na cadeira sendo servido pelos cortes do babeiro e um velhinho esperava também a vez. Ambiente silencioso, sem tagarelice e ao meu lado a gazeta do povo que, se não é um bom jornal, pelo menos é um jornal, pois lá no salão tinha só Caras, Gente e sei lá mais o que fofoqueiro que não me dizem respeito.

As conversas não foram ininterruptas, ao contrário, eram agradavelmente permeadas por silêncio, falou-se do caso da Colômbia, do governo, de carros e um pouco de futebol também, é claro, difícil faltar, o velhinho, quando me viu lendo a seção de economia, chegou mais perto para perguntar o preço da soja e me falou um pouco sobre o mercado da commoditie, mas sabe, tudo assim bem leve, agradável, pausado, nada histérico, nada muito pessoal, como aconteceu uma vez lá no salão, chegou-me uma patricinha, não, não sou eu que estou lhe dando esse rótulo, ela mesma se descreveu assim, estava cheia de trejeitos, chamando a atenção, e logo se pôs a narrar em alto bom tom e com detalhes sórdidos a briga que teve com a sua mãe na noite anterior; eu quase desesperado olhava para as outras mulheres esperando alguma cara de indignação ou mesmo de enfado, mas todas estavam muito bem sintonizadas e interessadas no relato, como se a novela da noite anterior continuasse ali. Nesse dia eu até queria um corte mais curto, mas quando a cabeleireira me perguntou pela primeira vez se estava bom, não pensei duas vezes, já fui me levantando, falando que estava ótimo e fugi dali o mais rápido possível.

Enfim, pela metade do preço tive um corte tão bom quanto o do salão e a minha espera foi adornada pela mais perfeita paz. Saí dali convicto de que lugar de homem é na barbearia.

2 comentários:

Patr�cia disse...

Já detestei mais os salões, hoje em dia tenho uma curiosidade antropológica que me faz achar quase tudo muito interessante. Ainda assim, sou do tipo que só vai em um salão a cada 3 ou 4 meses.

Quanto a questão da culpa, acho que quem perderia o interesse seria ela.

Caminhante disse...

Até eu fiquei com vontade de ir lá. A barbearia é unissex? ;)