segunda-feira, dezembro 31, 2007

O gosto do saber

Várias pessoas já me disseram sentir angústia por notar a sua impotência e incapacidade de conhecer tudo o que há para conhecer. O tempo é escasso, o trabalho demanda especialização, o bolso não é suficiente para tantos livros, alguns assuntos estão muito longe da sua compreensão etc. A mim não angustia ter de lidar com essas diferentes facetas da finitude humana. Claro que sou mordido pela curiosidade e quero sempre saber mais. Mas sem alvoroço. O conhecimento é como um prato refinado de comida, deve ser apreciado e degustado lentamente. Para que comer com pressa? Só para poder dizer "eu sei!"? Sim, você sabe, mas...até quando você saberá? O que me angustia de verdade não é pensar vagamente em coisas que eu não sei, que, justamente por não saber, sequer tenho como imaginar a não ser de modo bem confuso; o que me angustia é saber muito concretamente, de modo bem definido, que eu já não sei mais coisas que um dia eu soube, o que me angustia é saber que o que eu sei se esvai num jato contínuo na mesma velocidade, na mesma vazão com que aprendo novos assuntos. Eu me angustio pela perda real, não pela ausência do indefinido. Prefiro comer devagar sim, lentamente, tentando absorver e apreciar toda a variação de gosto e textura do alimento. Estou certo que assim a sua influência sobre o meu organismo será mais duradoura e mesmo mais profunda e intensa. Acaso se lembrará do gosto da comida quem a comeu de chofre, em segundos, mal mastigando? Talvez se lembre do mal-estar ocasionado pela gula e só. Sinceridade, eu não quero mesmo saber tudo, eu quero ter fruições intelectuais, quero sentir aquela comichão despertada pela compreensão que pouco a pouco vai se alargando e envolvendo o assunto estudado, que percorre solta e faceira nas suas associações, não quero apenas saber mais, quero também sentir e perceber o impacto deste saber em cada uma de minhas células. Enfim, quero a apreensão total de cada saber, quero mastigar o alimento completamente na minha boca, onde tenho nervos para senti-lo, até que derreta por inteiro. Nada de acúmulo eciclopédico, burro e voraz de vários saberes, o qual, aliás, causa náusea e gastrite.

2 comentários:

Luiselza Pinto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Na minha adolescencia eu me achava um gênio. O tempo e muitos estudos depois me fizeram ver que, quando muito, eu poderia achar que sou mais inteligente ou mais culta do que alguns - alguns mesmo, pois há muito o que caminhar.

Mesmo assim, ainda guardo comigo a sensação de que um dia fui muito melhor, que os anos têm apenas me emburrecido...