sábado, novembro 24, 2007

A caminhada

A labuta obstinada e incessante recompensa sempre o autor, inventor ou artista, conferindo em suas mãos e mentes os artefatos e as capacidades necessárias para esculpir as suas obras com primor e perfeição. Sim, concordo com a F. que o caminho retilíneo, sem dúvidas, sem paradas, sem mudanças, é, ao menos no mundo euclidiano, o mais curto até a criação cristalina. Contudo, não podemos desprezar a importância do vadio que erra pelo mundo sem propósito, desbravando paisagens inauditas, ainda que apenas para colocar por onde passa uma placa grosseira que será depois meticulosamente pintada e polida pelo artista.

As coisas só não ficam bem, para o vadio, quando ele não aceita o seu destino e se compara com o artista, queixando-se da falta de retidão, incomodando-se com o seu andar em ziquezague, procurando retroativamente, em desespero, uma ligação entre as paisagens visitadas. Tudo em vão. O vadio só vai conseguir tirar proveito da sua situação, forjando olhos para o inusitado, com alegria e vivacidade, quando aceitar a sua existência paradoxal, quando perceber que o seu propósito é justamente não ter propósito algum, que ele não anda para chegar em algum lugar, mas simplesmente para andar, a fim de que sempre tenha alguém andando.

Um comentário:

Caminhante disse...

FOFO!