sexta-feira, agosto 17, 2007

Contradições

Sobre a mesa jaz a garrafa de vinho barato, que ele, despreocupado, bebe no gargalo. No quarto, uma única e fraca luz, que lhe exige esforço durante a leitura. Mas agora ele não lê. Está entediado, está sufocado com as contradições humanas. Ele sabe que as tem também, aos montes, mas pensa que as dele são mais compreensíveis ou, diversamente, são tão profundas que nem faria sentido lhe apontar na cara a tensão. Ele bebe rápido, quer se embriagar. Quer esquecer, quer transformar sua dor em raiva, contradizendo sua fala, seu discurso, pois sim, ontem ele acusava, diante da amiga, a covardia hodierna sentimental, os exércitos humanos que se agarram ao próprio ego, ao EU, para não sentir. Deixam de amar para não sofrer. "Medrosos!", exasperava-se ele com a amiga. E agora ele bebe para anestesiar a sua própria dor. Medo? Nem tanto, mas não quer enfrentá-la de frente, sente-se fraco para suportá-la, para vivê-la plenamente. Então ele bebe, só, na escuridão do seu quarto.

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