quarta-feira, abril 18, 2007

Alfredo

Alfredo se entedia com tudo. Ele se apaixona com a mesma velocidade com que se esquece dos
seus amores antigos. O entediado é movido pela novidade. Outro dia, no ponto de ônibus, Alfredo cresceu os olhos para tentar ver o título do livro que a moça ruiva ao seu lado lia. ``Notas do Subterrâneo''. Humm, pensou. Ainda não tinha reparado em seu rosto. Quando o viu, se sentiu atraído. Ela tinha entre 20 e 24 anos, um nariz pequeno e arredondado, cabelos curtos, acentuando a sua jovialidade e sardas, sardas que desde pequeno Alfredo sempre almejou. Quando o ônibus chegou, esperou que ela fosse na frente, para ter uma visão completa do seu andar. Chamou-lhe a atenção a mochila da faculdade. Nela leu ``Administração''. Ah, pensou desapontado. Então olhou para suas mãos e viu unhas enormes que ele já não gostava tanto. Depois reparou no celular que ela ostentava, pendurado no bolso da calça. Sentou logo atrás dela.
Se sentasse ao lado, teria a chance de lhe falar, mas agora ele só queria observá-la. Alguns minutos depois, ela atendeu o celular. Quem ali estivesse, poderia assistir a mudança gradual da expressão facial de Alfredo de interessado para completamete desinteressado, quando, por fim, ele deixou de reparar na moça para contemplar a paisagem que a janela do ônibus lhe oferecia. Palavras como ``balada'', ``tipo'' foram lhe assassinado o interesse. O novo tornou-se velho. Tédio. Assim segue Alfredo se apaixonando e se desinteressando todos os dias várias vezes ao dia.

3 comentários:

Anônimo disse...

[Quando eu lhe dizia: - me apaixono todo dia e é sempre a pessoa errada
Você sorriu e disse: - eu gosto de você também...]

Eu sinto quase sempre esta sensação estranha, a necessidade de estar sempre me envolvendo.. é natural, será?

Nem todo mundo é uma ilha.

Eros disse...

Será que é necessidade de fugir do tédio apenas? Não sei.

Anônimo disse...

Talvez.