domingo, março 25, 2007
Abraço
Abraço somado. Abraço que eterniza em mim a sensação da sua presença constante. Teu jeito de encantar e produzir sorrisos. Como não lembrar? Foi preciso represar a vontade de hábitos antigos.
terça-feira, março 20, 2007
Pornográfico
Cansei, cansei da minha hipocrisia. A minha capa de formalidade quando falo contigo é falsa, é ilusória, é forjada. Debaixo dela pulsa a minha vontade de conhecer teus lábios, de apertar o seu corpo contra o meu. Pensa que é fácil para mim? Não é não. Hoje resolvi mandar tudo às favas. E daí que você tem um namorado, amante ou sei lá o que? O que eu tenho a ver com isso? Nada. Eu sinto o que eu sinto. Quer mesmo saber o que eu sinto, a verdade nua e rasgada? Eu digo. Não é paixão, não é amor, mas tem carinho no meio. Só no meio, pois nas pontas tem desejo, de um lado e atração, do outro. Tem algum gostar também, sei que tem, ou eu não sentiria essa vontade louca de suprimir com todo o pudor entre quatro paredes. Você me deixa pornográfico.
terça-feira, março 13, 2007
Maroto
Instante extenso. Uma fração de segundos de uma duração penetrante. Cruzei o limiar da porta e te vi. Senti-me golpeado no estômago. Que era aquele sorriso maroto? Sim, você sabe, você nota. Baixei os olhos. Suportaria o teu olhar, mas não pude com o teu sorriso. Pensei em me derramar nos teus braços, mas você se assustaria. Continuas uma incógnita que magnetiza a minha atenção. Não sei nada sobre você além do fato de que és canhota. No entanto, já sei o bastante. Isto basta.
domingo, março 11, 2007
Filo
"Você é um homem das humanas", foi me dito outro dia, questionando minha opção mais recente pelas exatas. O que me levou e me leva às exatas é a oportunidade de me ocupar exclusiva e voluptuosamente com questões externas, questões que não me obriguem a voltar sobre mim mesmo. Embora a filosofia também dê algumas oportunidades assim, ela sempre nos força à reflexão especular. E há momentos em que simplesmente não quero ficar olhando para mim. Quero me ocupar do mundo, oras. Motivo banal e simples. Quando, ao contrário, sinto saudades de mim, vou à procura do leite materno filosofal. Aí sento, leio, penso, escrevo e me sinto aconchegado pertinho de mim.
sábado, março 10, 2007
Amizade
- Você é o meu melhor amigo.
- Por que está me dizendo isso?
- Não sei, queria que soubesse.
- Não diga algo que não possa sustentar no instante seguinte.
- Mas estou certa que posso.
- Eu não.
- Você está seco!
- Realista.
- Mas eu gosto sim de você.
- Para que dizer isso? Há centenas de formas mais interessantes de manifestar a sua estima por mim. A mais pobre delas é essa, pela fala.
- Por que?
- Porque é fácil.
- Ah, então eu teria de me sacrificar para mostrar a você alguma estima?
- Não falei de sacrifício. E se você já vê qualquer ato além da palavra como um sacrifício, então realmente não sabe o que está falando quando diz que sou o seu melhor amigo.
- Você pressupõe que sentimentos são eternos. Se digo agora que você é o meu melhor amigo é porque me sinto assim em relação a você, mas por que deveria sustentar isso para sempre? Sentimentos acabam. Você não disse que é realista?
- Sim, eu disse.
- Então...
- Então que você pode dizer que sou o teu melhor amigo sem precisar sustentar isso para sempre. Mas eu ainda não vejo sentido em que me diga tal coisa, se você não é capaz de
manifestar isso que diz por outras formas além da palavra.
- Você parece querer que as pessoas provem o tempo todo o que sentem.
- Não, não quero. Se sentem, não precisam provar. Naturalmente irão fazê-lo.
- Mas você é mais cético que o normal e o que você espera ser uma manifestação "normal" de um sentimento não é nada normal.
- Talvez você tenha razão.
- Você é o meu melhor amigo sim.
- É...acho que nunca vou saber.
- Por que está me dizendo isso?
- Não sei, queria que soubesse.
- Não diga algo que não possa sustentar no instante seguinte.
- Mas estou certa que posso.
- Eu não.
- Você está seco!
- Realista.
- Mas eu gosto sim de você.
- Para que dizer isso? Há centenas de formas mais interessantes de manifestar a sua estima por mim. A mais pobre delas é essa, pela fala.
- Por que?
- Porque é fácil.
- Ah, então eu teria de me sacrificar para mostrar a você alguma estima?
- Não falei de sacrifício. E se você já vê qualquer ato além da palavra como um sacrifício, então realmente não sabe o que está falando quando diz que sou o seu melhor amigo.
- Você pressupõe que sentimentos são eternos. Se digo agora que você é o meu melhor amigo é porque me sinto assim em relação a você, mas por que deveria sustentar isso para sempre? Sentimentos acabam. Você não disse que é realista?
- Sim, eu disse.
- Então...
- Então que você pode dizer que sou o teu melhor amigo sem precisar sustentar isso para sempre. Mas eu ainda não vejo sentido em que me diga tal coisa, se você não é capaz de
manifestar isso que diz por outras formas além da palavra.
- Você parece querer que as pessoas provem o tempo todo o que sentem.
- Não, não quero. Se sentem, não precisam provar. Naturalmente irão fazê-lo.
- Mas você é mais cético que o normal e o que você espera ser uma manifestação "normal" de um sentimento não é nada normal.
- Talvez você tenha razão.
- Você é o meu melhor amigo sim.
- É...acho que nunca vou saber.
sexta-feira, março 09, 2007
Orgulho
O orgulho que me afasta das pessoas é o mesmo que me mantém vivo. Não ser orgulhoso implica em aceitar safanão, em ser cristão. E eu sou um agnóstico bem resolvido. Mas tenho dúvidas, como sempre. É fraco aquele que abaixa a cabeça para pedir perdão ou, ao contrário, aquele que não consegue fazê-lo justamente por excesso de orgulho? É fraco aquele que permite sangrar o seu EU ou aquele que não consegue se vencer? Depende. Depende. Não reconhecer o erro já beira à burrice. Mas, por outro lado, erro mesmo só há quando você o reconhece como tal. Não vou pedir perdão por erros que me imputam de fora. Uma colherada de orgulho aqui. Perco sim, perco amizades e amores por orgulho. Mas sem ele, eu não iria conseguir me erguer depois de levar uma rasteira. O orgulho é a bengala dos homens-lobo.
quarta-feira, março 07, 2007
Livre
O que algumas pessoas não entendem é que o suicídio só pode ser escolhido genuinamente se o indivíduo não tiver qualquer razão para ele. Verdade, suicídio coagido por razões não é menos suicídio, mas também não é livre. Quem se mata por tristeza ou depressão reconhece que a vida é demais para ela, que a sua fraqueza não suporta as forças vitais que batem em seu peito. Suicídio motivado é uma escolha para fracos. Um suicídio livre não é motivado por razões. Ele é a própria razão, é o fundamento da não-vida, é a aceitação e a escolha da morte como modo de ser. Uma escolha não coagida não pode ser racional. Kant está errado. Ser livre não é agir sempre em conformidade com a razão. O suicida livre, ao contrário, é aquele que tem todas as razões para viver, tem diante de si o êxtase mais sublime das paixões e ainda assim escolhe abraçar a morte. "Por que? Por que?", perguntarão alguns. "Não faz sentido!", dirão outros. Mas é justamente essa questão que não faz sentido para ele. Ele não foi coagido, ele não foi motivado, ele não foi levado. Não há uma razão para ser interrogada e inquirida. Ele apenas escolheu livremente a morte. Ele apenas desnudou seu eu de toda essa casca acidental de razões que só servem, na maioria das vezes, para nos robotizar.
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