quarta-feira, março 07, 2007
Livre
O que algumas pessoas não entendem é que o suicídio só pode ser escolhido genuinamente se o indivíduo não tiver qualquer razão para ele. Verdade, suicídio coagido por razões não é menos suicídio, mas também não é livre. Quem se mata por tristeza ou depressão reconhece que a vida é demais para ela, que a sua fraqueza não suporta as forças vitais que batem em seu peito. Suicídio motivado é uma escolha para fracos. Um suicídio livre não é motivado por razões. Ele é a própria razão, é o fundamento da não-vida, é a aceitação e a escolha da morte como modo de ser. Uma escolha não coagida não pode ser racional. Kant está errado. Ser livre não é agir sempre em conformidade com a razão. O suicida livre, ao contrário, é aquele que tem todas as razões para viver, tem diante de si o êxtase mais sublime das paixões e ainda assim escolhe abraçar a morte. "Por que? Por que?", perguntarão alguns. "Não faz sentido!", dirão outros. Mas é justamente essa questão que não faz sentido para ele. Ele não foi coagido, ele não foi motivado, ele não foi levado. Não há uma razão para ser interrogada e inquirida. Ele apenas escolheu livremente a morte. Ele apenas desnudou seu eu de toda essa casca acidental de razões que só servem, na maioria das vezes, para nos robotizar.
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