sábado, março 10, 2007

Amizade

- Você é o meu melhor amigo.
- Por que está me dizendo isso?
- Não sei, queria que soubesse.
- Não diga algo que não possa sustentar no instante seguinte.
- Mas estou certa que posso.
- Eu não.
- Você está seco!
- Realista.
- Mas eu gosto sim de você.
- Para que dizer isso? Há centenas de formas mais interessantes de manifestar a sua estima por mim. A mais pobre delas é essa, pela fala.
- Por que?
- Porque é fácil.
- Ah, então eu teria de me sacrificar para mostrar a você alguma estima?
- Não falei de sacrifício. E se você já vê qualquer ato além da palavra como um sacrifício, então realmente não sabe o que está falando quando diz que sou o seu melhor amigo.
- Você pressupõe que sentimentos são eternos. Se digo agora que você é o meu melhor amigo é porque me sinto assim em relação a você, mas por que deveria sustentar isso para sempre? Sentimentos acabam. Você não disse que é realista?
- Sim, eu disse.
- Então...
- Então que você pode dizer que sou o teu melhor amigo sem precisar sustentar isso para sempre. Mas eu ainda não vejo sentido em que me diga tal coisa, se você não é capaz de
manifestar isso que diz por outras formas além da palavra.
- Você parece querer que as pessoas provem o tempo todo o que sentem.
- Não, não quero. Se sentem, não precisam provar. Naturalmente irão fazê-lo.
- Mas você é mais cético que o normal e o que você espera ser uma manifestação "normal" de um sentimento não é nada normal.
- Talvez você tenha razão.
- Você é o meu melhor amigo sim.
- É...acho que nunca vou saber.

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