sábado, janeiro 03, 2009

Litoral liberal

Comparando mineiros com curitibanos, sempre atribuí aos primeiros mais afetividade e receptividade. De fato, os mineiros acolhem mais. É improvável que, sendo de fora, em um evento social, nenhum mineiro venha tentar trazê-lo para a roda com algumas perguntas. Em Curitiba, improvável é o contrário. É perfeitamente normal e aceitável que você seja ignorado por todos o tempo todo. Agora percebo, no entanto, que o acolhimento mineiro tem algumas restrições. Ele só se aplica à pessoa se ela se ajusta muito bem à normalidade social. Comparando novamente, vejo que o mineiro é tão conservador quanto o curitibano. No aspecto visual, creio que sejam até mais. Minha namorada-esposa tem o cabelo vermelho, vermelho vivo, bem vivo. Andando pelas ruas de BH, mesmo na minha companhia, tivemos a surpresa da reação negativa de várias pessoas, ela teve, inclusive, de escutar um "cruz credo", outra velhinha, quase em posição de enfarte, colocou a mão na boca apavorada, enquanto apontava para ela e chamava em socorro o seu velho-marido, "olha aquilo". Realmente chocou-me ver tantas pessoas chocadas com o vermelho do cabelo dela. Contraste imediato com o "liberalismo visual" que encontramos ao chegar no ES, mesmo na cidade interiorana em que nasci. Andando pelas ruas, algumas pessoas a pararam para elogiar o seu cabelo, outras para saber como fazer igual. Não é novidade alguma que o calor do litoral e das praias tornam as pessoas menos desapegadas a um certo padrão de decoro e vestimenta. Lembro agora também que, ao chegar em BH, com 14 anos, aposentei logo as bermudas que, aqui, eram meu meio de se vestir diário. Depois de uma semana recebendo os olhares de todos ao entrar em um ônibus qualquer, desisti de resistir. Na época, lá ainda não era tão quente quanto é hoje. Então imagino que agora sejam um pouco menos conservadores quanto às bermudas. Mas certamente os mineiros ainda estão longe de aceitar que os cabelos sejam também uma vestimenta e, por isso, possam ser pintados e trocados das mais diversas maneiras.

2 comentários:

Caminhante disse...

Eu acho essa a parte mais interessante de se viajar. Existem muitas maneiras de lidar com a mesma coisa, que a gente nem desconfia. Eu, pessoalmente, acho muito agressivo alguém reagir/ dar palpite a qualquer forma de vestuário.

E é bom perceber também o quanto essas coisas nos afetam. A mesma coisa pode significar que você quer chocar, ou quer ser bem acolhido, ou pode simplesmente passar incólume por aí...

Marcely Costa disse...

Meu namorado-esposo, é bom saber que tenho o seu apoio e que meu cabelo não te afeta negativamente - embora não diga sempre isso. Eu só insisto um pouco mais que você parta pra cima, como macho defensor que é, na próxima pessoa que me agredir verbalmente, seja qual for a idade ou sexo. Isso ia deixar mais claro que você me ama e realmente admira a cor do meu cabelo. Que tal?
E, em último lugar um comentário: é por isso que é bom ser cidadão do mundo... questionar os valores sociais é mais possível quando você visualiza desses contrastes, não?