quarta-feira, novembro 05, 2008

Da consciência do pé

Um corpo miserável causa uma consciência miserável, todo mundo sabe disso. E se a velhice ou, para falar de um modo mais brando, o passar dos anos, tem, para mim, algum porém, é a convivência mais assídua e íntima com essa consciência. Perturba sentir a fragilidade se apossando do corpo a cada fração de segundo, ceifando potências e incrustando medos. Semana passada subi em uma árvore para colher umas pitangas que ela tanto ama. Não, antes que tentem concluir por mim, eu não caí da árvore. Ao descer, contudo, quando estava mais ou menos a um metro do chão, resolvi pular. Como a sola do allstar e nada são a mesma coisa, senti penetrante a dureza do chão. Dor momentânea que logo se esvaeceu no fluxo da consciência. Uma semana se passou e o local do impacto resolveu progressivamente revoltar-se contra mim, como se eu não tivesse lhe dado a devida atenção naquele seu momento nascente, e hoje vejo-me obrigado a ficar em casa por não conseguir andar. Acharia ótimo se não tivesse recebido aquele papelzinho pela fresta da porta convocando-me a comparecer nos Correios para receber uns livros encomendados. Ah, mas nem que eu vá de saci! De qualquer modo, aflige, anos atrás, algo bobo assim não causaria mais que uma coceira.

3 comentários:

Unknown disse...

Em outras palavras: envelhecer é uma merda!

Eros disse...

"É uma merda, mas é bom", como disse o Tom uma vez do Brasil.

Marcely Costa disse...

O problema em envelhecer fica um pouco mais em cima...
Mas não se preocupe, ou você é louco ou impressionável, você não é velho, seu bobo ^_^
É normal cair de mau jeito e ficar ruim em qualquer idade. Eu às vezes não fico dolorida sem motivo aparente?
Mas eu te amo por sacrificar seu pé por mim. =*