A dor e o sofrimento são praticamente ubíquas na vida de todo ser humano. Ao longo de nossas vidas, nos encontraremos com eles várias vezes. Contudo, as atitudes podem variar. Algumas pessoas preferem simplesmente ignorar que a dor e o sofrimento existem. Logram êxito nesse intento lançando mão da diversão e do entretenimento e, em casos mais extremados, das drogas, que também não deixam de ser entretenimento. Não há fuga melhor da dor que lançar-se no prazer. São pessoas que acabam tendo um sorriso constante para a vida, agitadas e inquietas. Eu as considero otimistas falsos, pois elas sorriem para a vida não por um motivo positivo, mas pela ausência de motivos negativos. Outras pessoas pecam de maneira oposta, preferem aprofundar a dor e o sofrimento presentes, tomando-os como a totalidade de seus mundos. Elas exageram a dor que possuem e, às vezes, reconhecem mesmo aquelas que não têm. A ordem do dia é reclamar. Conseguir sobreviver, para essas pessoas, é tão digno de mérito quanto os feitos de Hércules. A vida é sem sentido e absurda, pois, como nos lembra o mito de Sísifo, não há qualquer razão para vivermos imersos eternamente na repetição tediosa e dilacerante da dor. Esses são os pessimistas. Entre uma atitude e outra, penso que há espaço para uma posição que poderíamos chamar de "otimismo verdadeiro" ou ainda "otimismo pessimista". Ele é verdadeiro, pois engendra um motivo positivo para sorrir diante da vida, mas ele também é pessimista, pois não nega os motivos negativos, isto é, não ignora a dor e o sofrimento existentes. Óbvio que esse motivo positivo não pode ser o prazer presente, usado pelos otimistas falsos, pois ele é leve e efêmero demais para contrabalancear a ubiquidade do sofrimento. Um sujeito que se refugia o tempo inteiro no prazer reconhece automaticamente que esse mesmo prazer, ao cessar, ao se esgotar, não lhe deixa nada que o permita suportar a dor. Por isso mesmo a lógica da fuga incessante. Como, então, é possível o otimismo verdadeiro? Ora, se um motivo positivo para sorrir diante da vida não se encontra no prazer, no nível da sensação, ele deve estar no nível do sentido. Você precisa encontrar justamente aquilo que os pessimistas afirmam a vida não ter: um sentido. O sentido, se você o tem, é algo que lhe permite sorrir para a vida mesmo diante da dor, mesmo reconhecendo a dor. Ele lhe dá forças para enfrentá-la. Não precisa fugir. O único problema é que ele não se acha assim tão facilmente. Mas as possibilidades são inúmeras. Schopenhauer fala do contato com o absoluto por meio da intuição, Tolstoi, da experiência religiosa, o toque divino sobre o ser. Ambas têm em comum a trascendência, a idéia de que algo além do humano pudesse lhe dar um sentido, uma direção.
Eu sou mais modesto. Não nego a possibilidade de uma experiência religiosa ou de um contato intuitivo com o absoluto, apesar de considerá-los muito improváveis, mas acredito que há possibilidades mais mundanas para o sentido da vida e bem mais prováveis. Penso em especial na experiência do amor, que é, ao mesmo tempo, transcendente e imanente. O amor é completamente imanente, emana de nós mesmos, é humano, nasce da relação do eu com o outro, mas, ao mesmo tempo, transcende o eu em unidades maiores, ceifa o isolamento existencial, cria uma interseção onde só parecia haver silêncio, vazio ou incompreensão. É verdade que um amor talvez não lhe dê um sentido para toda a vida, mas ele lhe dá um sentido suficientemente forte para suportar o sofrimento mesmo quando cessa o prazer presente. Os amores particulares acabam e, com eles, a força do sentido que engendraram, mas o amor em si enquanto direção é um sentido perfeitamente mundano e realista para um otimista verdadeiro.
Eu sou um otimista verdadeiro com esporádicas e efêmeras recaídas pessimistas. Eu também não tenho nada contra o otimismo falso e me valho das suas estratégias vez ou outra. Só acho que a busca incessante pelo prazer efêmero entedia, além de pesar no bolso.
sábado, setembro 29, 2007
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2 comentários:
E pesa mesmo no bolso!!! Há uma estranha associação desse falso otimismo com dinheiro. Ou, dito de outra forma, não são todos que conseguem usufruir do simples e gratuito.
na verdade, exige um certo engenho, pois com o bolso leve diminuem as possibilidades de prazeres. Mas concordo, dá para fazer muita coisa com o simples e gratuito.
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