domingo, julho 01, 2007

Existência

Você existe mesmo? Como sabe? O prêmio de consolação cartesiano embutido no penso, logo existo é, na verdade, um escárnio, uma ironia, uma trombeta a lhe gozar, a lhe espetar o dedo na cara apontando o seu nada. Para chegar à brilhante conclusão do cogito, você precisa suspender todo o universo, seu corpo, sua história e até as suas memórias. No final desse processo de suspensão, resta apenas um ser amorfo que tem a singular propriedade de pensar. Ele pensa e pronto, nada mais. Termina aí. Mas ele não tem personalidade, não tem rosto, não tem nome, não tem memória, não tem quem se lembre dele, nem quem o toque, pois isso já seria pedir demais. E assim fica claro que podemos existir sem, no fundo, realmente existir. Um eu que perdeu todas as suas relações com outros eus deixou também de ser. Existe apenas como essa coisa amorfa pensante, destituída de qualquer significado.

2 comentários:

Monólogo Poético disse...

Interessante como até os mais "falantes" se calam quando o assunto se remete ao desespero existencial.

Eros disse...

A felicidade é sempre comemorada coletivamente, pois assim todos esquecem quem são. Mas a tristeza deve ser escondida e sentida isoladamente, pois assim ninguém precisa se lembrar o que é. Todo ser humano é um espelho.