terça-feira, junho 19, 2007

Ruivas

Alfedro tem fixação pelas ruivas. Foi assim que ele se apaixonou através da visão instantânea pela L, K, N e W. Em tempos diferentes, é claro, pois Alfredo é o tipo de cara que prefere ataques concentrados ao invés de suportar grandes flancos. Diz ele que o risco de sucumbir no seio inimigo é maior, mas também são maiores as chances de chegar ao seu centro fatal. Não sei de onde vem essa atração irrefreável, mas é incontestável o abalo emocional de Alfredo diante de uma ruiva. Outro dia caminhávamos pelas ruas do centro, discutindo sobre um texto da faculdade, e repentinamente ele me deixa sozinho, seguindo por uma outra rua atrás de uma ruiva que ele tinha visto passar. Não o vi mais nesse dia. No ônibus, ele simplesmente fica imóvel, ouso dizer que nem pisca, encarando a primeira infeliz ruiva que ele encontra. Nem preciso lhes dizer que esse comportamento de psicopata não deu nenhum fruto. Duvido que dê. Já vi Alfredo com japas, negras, morenas, altas, baixas, gordas, magras, mas nunca com uma ruiva. Um dia resolvi lhe perguntar se sua fixação tinha alguma razão. Ele me respondeu assim: "Não tem não, meu amigo, eu simplesmente me sinto queimar por dentro quando vejo uma ruiva. Elas despertam o meu demônio. Sabe, quando você não consegue pensar em mais nada, sentindo o ser que se apresenta como senhor absoluto da sua atenção? É assim que me sinto, sem controle, sem opção, sem livre-arbítrio. Mas você quer uma razão? Quer? Não sei o que você faz com tantas razões, realmente não sei. Mas vá lá. Se quer...dou-lhe uma, essa aqui, ó: tenho medo de escuro, verdade, mesmo já estando assim quase adulto, não durmo de luz apagada e sempre imaginei que se me casasse com uma ruiva, teria um fogo incandescente a me iluminar e aquecer no próprio leito. Entende?. Não sou muito diferente dos outros homens nas associações".

5 comentários:

Anônimo disse...

Ruivas... Suas palavras sempre exalam à profundidade... Ou será à intensidade? Ou será à Filosofia?
Também creio ter algumas fixações e associações inimagináveis; nem todas, entretanto, podem ser tão explicitamente colocadas, mesmo porque emanam de desejar que sejam implicitamente postas.

Anônimo disse...

Hummm... Imaginei agora você proferindo a palavra branquelas; esbaldo-me de tanto rir. Estranho: sequer imaginei que esse termo lhe passasse à vista, mas confesso que, às vezes, os tons são uma questão de prazo... humano.

Eros disse...

Neste caso ao menos, a apreciação estética se relaciona muito mais com o efeito sobre a sensação e muito menos com o efeito sobre a emoção. A ponderação deixou isso claro.

Anônimo disse...

Seja qual for a palavra sua que leia, vem-me um (pré)questionamento: como eu seria se fosse homem? Seria tão vasto como a vastidão da sua Filosofia terrena, comparada ao que penso e ao que me cerca? Ahhh... Talvez, talvez, talvez... O mais provável é que eu desse vazão à antropologia que fundamenta meus passos. Darwin... Como gostaria de trocar abrobrinhas com ele...

Eros disse...

Que antropologia fundamenta teus passos?