quinta-feira, junho 28, 2007

Pernas

Pernas grossas e roliças, de uma brancura noturna, cruzadas bem na minha frente, evidenciando ainda mais a sua exuberância. Realmente lindas, perfeitas no branco para aquele horário e ambiente. Estava só, não apenas no sentido físico da palavra, mas principalmente no psíquico. Olhar distante, voltada para si mesma, olhos consternados, quase ouvi um choro. Completamente absorvida em si que nem me percebeu dissecá-la. Nunca imaginei que no meio de pernas tão perfeitas pudesse encontrar um sofrimento tão visível. Então o frenesi da gravação voltou a tomar conta do local e ela foi chamada a assumir a sua posição de dançarina figurante. Guardou na pequena bolsa preta os óculos que afundavam ainda mais o seu olhar. Levantou no seu salto preto exibindo as pernas mais vistosas do recinto, não minto, acho que nunca esquecerei aquelas pernas, arrumou um sorriso falso na boca e dirigiu-se para o meio da pista. Livre do pensar, do pesar, voltou a dançar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Guardo suas palavras como um raríssimo exercício do prazer da mais perfeita escrita e Filosofia (!)... Essas "suas" Pernas foram dignas de um Carlos Drummond de Andrade. Inspirador... aspirante... jamais expirante. Simples e completamente Eros.

Eros disse...

menos, bem menos, por favor!

Anônimo disse...

Mais, bem mais... Sem favor!