quarta-feira, janeiro 17, 2007

Match Point

Match Point, do Woody Allen, explora a idéia de que a sorte desempenha um papel fundamental em nossas vidas. A metáfora da rede de tênis usada no início do filme é espetacular. Às vezes, a bola bate no topo da rede e, por um instante, fica suspensa. Ela pode cair do seu lado e você perde ou ela pode cair no campo do seu adversário e você ganha. E a vida é assim cheia de eventos de sorte ou azar. Isso soa como um atentado àqueles que gostariam que a vida estivesse completamente sob o seu controle. Mas é claro que a gente não tem completo controle sobre a vida, a não ser que você e o mundo fossem um só. Não é por outro motivo que temos tanta vontade de poder...O Deus teísta se torna o próprio mundo através da sua masturbação onipotente. Mas aqui neste mundo que não é nosso, que não dominamos, com esses recursos precários e limitados que a natureza nos deu, podemos fazer escolhas de efeito marginal. O grosso da vida, e o que ainda a torna bela, misteriosa e mesmo desejável, é de uma contingência absoluta aos nossos olhos finitos.

Quando eu tinha uns 13 ou 14 anos, uma colega de classe me enviou um bilhete perguntando se eu gostava da M. M era uma sardenta bombardeada pelo foco da minha atenção, objeto de sonhos e desejos que começavam a nascer. Eu respondi, no verso do bilhete, que sim. Essa colega não me viu escrevendo e, quando pegou o bilhete de volta, olhou apenas a parte frontal e fez uma cara de reprovação, tomando o meu suposto silêncio como um não. Depois jogou o bilhete fora. Eu não disse nada. Quando a aula acabou, eu a vi indo na outra sala falar com M. E M nunca veio até a mim e eu nunca fui até a M. Depois eu fui embora daquela cidade e nunca mais vi M.

3 comentários:

Anônimo disse...

é assim que acontece quando o amor foge do amor

Anônimo disse...

Este filme, apesar de todos os clichês apresentados...mostra exatamente como não temos o controle de absolutamente nada...

Eros disse...

É...não temos controle, não temos qualquer previsão. Mas ainda assim, temos de carregar a vida nas próprias mãos.