terça-feira, outubro 21, 2008
Back to Philosophy
Estou de volta à filosofia. Mamãe resolveu me acolher novamente, depois de me deixar vagando como um pedinte na terra dos bits por esses últimos 4 ou 5 anos. Sem ressentimentos. Mãe é Mãe, filho é filho e, pela natureza, estamos destinados a perdoar um o outro. Eu penso que ela quis me dar uma lição, não tanto de moral, mas como se quisesse me dizer, "se aqui na matrix tá ruim, lá fora tá pior ainda". Duvidei dela de teimoso e fui pra rua. Enquanto tinha dinheiro no bolso, diverti-me um monte, é verdade. Os bits até que são caras legais, jovens, borbulham idéias, diria que são hippies científicos, aceitam quase de tudo entre eles, cientificamente falando, é claro, bem diferente do tom casmurro e opressor em casa de mamãe, talvez porque ela espera demais de nós e, em parte também pelas toneladas de séculos pesando sobre os nossos ombros. Apesar dessa jovialidade de idéias entre os bits, eles tendem a adotar a moral de rebanho quando chega a hora de pedir dinheiro ao pai. E o pai desses caras, vou dizer curto e grosso, é um estereotipado protestante calvinista. Simplesmente intolerável e repugnante. Dá aos filhos o que comer com a estrita exigência de que estes panfleteiem o seu bom nome pelos quatro cantos. Quando começou a rarear as moedas em meu bolso e vi que teria de recorrer ao pai de algum bit e me sujeitar endireitado ao proselitismo paternal, mamãe apareceu de braços abertos, salvando-me da miséria espiritual que logo me imundaria. Volto à matrix, aos sonhos, aos gênios malignos, volto à terra das infinitas possibilidades, e, por que não dizer, dos sonhos de dimensões transfinitos? Em casa de mamãe, apenas os anos pesam, de resto, tudo lá tem um tom etéreo, esfumaçante, respirar é meio que brincar. E, de um certo modo, há uma parte de mim que quero sempre criança, ingênua. Se percebi algo entre os bits, é que não gosto de vida reta. É por demais artificial, alcançável sobretudo por estímulos e reforços que vêm de fora, de algo que absolutamente não sou. A vida verdadeira, cínica, porém corretamente falando, é curvilínea, pois é impossível, com essas pernas naturalmente cambotas que temos, caminhar em linha reta, ainda que diminuamos o tamanho do passo a dimensões infinitesimais. Andar é meio que saltar. Então é isso, salto de volta para a casa de mamãe, sem razões, sem justificativas, mas cheio de sonhos.
segunda-feira, outubro 06, 2008
Da única possível razão, desarrazoada.
Não há nada que me atinja mais do que a possibilidade da sua inexistência, do seu cessar, do seu deixar de ser entre as minhas possibilidades perceptivas futuras. Meus sonhos foram imundados de pesadelos sem ti, expressei isso com o forte e demorado abraço amedrontado que lhe dei ao acordar. Mesmo o maior dos convictos fraqueja diante do maior dos seus temores. Já aprendi a viver sem muita coisa, para falar a verdade, com quase nada, meu ceticismo já matou todas as razões, todos os motivos, menos, paradoxalmente, essa necessidade que se arraiga no maior dos mitos: o do amor romântico. Mesmo que me fosse contada milimetricamente cada antecedente histórico que deu origem a esse mito socialmente localizado e contextualizado, mesmo que eu reconhecesse a sua tolice, e eu a reconheço, ainda assim não deixaria, e não deixo, de sentir, em minhas respirações e palpitações, a necessidade de amar única e totalmente. Talvez resida aí o resquício mais sólido do meu instinto de sobrevivência, habilmente incutido pela seleção natural. E daí? Grito eu para todos os lados. Acaso isso perturba em uma porção infinitesimal que seja a forma como me sinto? Não. Ou ainda uma explicação psicológica mais íntima, se quiseres, na forma de uma disjunção: ou eu percebo que sou necessário para um outro, não um outro qualquer, é óbvio, mas você concretamente, ou eu me faço desnecessário para mim mesmo e perco todos os laços que me prendem ao mundo. Patética conclusão irrefutável. Amor que me atordoa se não lhe serve de alívio, remédio, por pouco que seja e, no entanto, sem ele, não quero nada além do nada.
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