Chega! Hoje vou ter de contar. Guardei essa observação por muito tempo pensando que ela fosse incorreta, afinal, quando mudamos para uma cidade nova, chegamos lá de olhos arregalados, procurando por qualquer diferença comportamental, só que nos esquecemos que não mantínhamos os olhos assim tão abertos na cidade de origem e o que agora nos parece diferente na cidade nova talvez fosse habitual também na de origem. Enfim, julgamentos comparativos que não foram balizados por uma metodologia mais rigorosa são muito provavelmente errôneos. Foi com este medo que protelei o que logo lhes confessarei. Não que eu tenha me munido de uma metodologia muito rigorosa para atestar a verdade do meu juízo, mas considero a evidência reunida bastante razoável.
Na verdade, até hoje eu achava que o meu juízo deveria se limitar ao curitibano do sexo masculino. Mas eis que minha mãe, tendo passado oito meses em Porto Alegre, lança, sem que eu lhe tenha falado absolutamente nada sobre o assunto, o mesmo juízo a respeito dos porto-alegrenses. Fiquei imensamente surpreso na hora. Não que eu pretenda agora alargar o meu juízo e transformá-lo numa sentença regionalista, continuarei me limitando aos curitibanos, foram os que presenciei. No entanto, o fato de a minha mãe ter notado lá em Porto Alegre o mesmo que observo aqui sugere, pela diversidade das fontes de informação, que nossos olhos não estão, neste caso, tão carregados de prejuízo. Até porque a minha mãe não é do tipo antropólogo e se este comportamento lhe saltou às vistas, então é mais provável que de fato haja uma diferença comportamental do que ela tenha simplesmente notado algo que também é habitual na sua cidade apenas por estar com olhos mais abertos.
Tudo começou quando, andando em uma rua bem próxima do centro, de movimento considerável de carros e pessoas, observei um cidadão fazendo X. Achei um pouco estranho, mas na hora nem dei muito assunto, pensei se tratar de coisa de bêbado, apesar da claridade e do horário: meio-dia. Com o tempo, comecei a observar outros cidadãos fazendo o mesmo com relativa freqüência, e o que é pior, não se poderia dizer que estavam bêbados, de modo algum. Vi trabalhadores, jovens, adultos, vi até aluno da UFPR fazendo X ou pelo menos usava a mochila da instituição e se vestia como estudante, enfim, o ato não parece fazer distinção social ou de idade. Vi eles fazendo isso em ruas movimentadas em pela luz do dia. Não é nada recatado, não percebo nenhuma vontade de esconder o ato. Parece que fazem disso um assunto público mesmo. Um dia, para o meu espanto, vejo um moleque de uns 10 anos de idade fazendo X em pleno pátio do centro politécnico. O pai ao lado nada falou. Eu fiquei encafifado, ficava pensando, será que em Belo Horizonte faziam isso e nunca notei? É tão comum e despudorado lá quanto é aqui?
Em meu socorro vieram outros forasteiros, alguns paulistas, outros nortistas, compartilhando o meu espanto. Falando baixinho, quase segregando, relataram-me também as inúmeras vezes que viram curitibanos do sexo masculino fazendo X. Contaram-me a mesma despreocupação com o horário e o lugar que eu já tinha observado. Era o que me faltava para fortalecer a convicção do meu juízo e afastar a idéia de que estava sendo preconceituoso com os curitibanos. Ainda assim faço o juízo com certa timidez, pois é espantoso que um povo tão orgulhoso da sua civilidade, que não joga papel no chão, o que aliás muito me agrada, faça isso assim nas suas ruas de maneira tão despudorada e com tanta freqüência.
O que é X, afinal? Cansei de ver nessa cidade os seus espécimes masculinos abrirem sem vergonha suas barguilhas, retirarem seus equipamentos sexuais para fora a fim de regar a cidade com o seu amor uréico. Sim, já ouço o clamor indignado. Até parece que ninguém mija nas ruas em Belo Horizonte ou São Paulo. Claro que muitos mijam, eu mesmo já mijei. Mas na noite calada, na surdina, completamente bêbado, e ainda assim envergonhado, andando várias quadras até encontrar um beco bem escuro, olhando para todos os lados temendo o flagrante. O que me espanta aqui não é o fato bruto de mijarem, mas o fato de não sentirem vergonha, de não se preocuparem em se esconder, de não selecionar ruas vazias e desertas. Talvez em Belo Horizonte mijem nas ruas com a mesma freqüência que se mija aqui, mas como fazem isso na surdina, ninguém nota, ninguém vê, não é algo que salta às vistas. Aqui não, não há dia que caminhe umas três horas pela cidade sem ver uma instância do ato impudico. E segundo os relatos da minha mãe, acontece o mesmo em Porto Alegre. Vai ver é coisa do sulista fazer da mijada um ato público.
domingo, março 09, 2008
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3 comentários:
Então vou te falar: a quantidade de X publico aqui não é nem a décima parte do que em Salvador. Falo com a certeza de quem passou toda a infância e parte da vida adulta indo pra lá.
Pior ainda é o hábito de coçar o saco em público. Até meu pai e meu irmão faziam isso na minha frente! :o
Fernanda
Mais um motivo então para eu não querer conhecer a Bahia, apesar de eu já a ter conhecido tecnicamente com 2 anos de idade.
É que é coisa de homem. Homem costuma ser a mesma porcaria em todo lugar. Salvo raras exceções.
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