domingo, janeiro 20, 2008

Dor de arreia

Exatamente assim, você não leu errado, "dor de arreia" é o nome que duas crianças criativas, eu e a minha irmã, demos à diarréia em nossa inocente ignorância. Diria até que com uma lógica perfeita. "Dor de cabeça" não denomina uma dor que sentimos na cabeça, e "dor de dente", uma dor no dente? Por analogia, a palavra "diarréia", soltada veloz, de chofre, era interpretada como "dor de arreia", afinal, a diarréia vinha acompanhada de uma dor, então só poderia ser dor de alguma coisa, claro, a dor de arreia, ainda que não soubéssemos ao certo o que era a arreia, por certo alguma coisa dentro das nossas barriguinhas. Assim pensávamos. Os pais achando graça nisso tudo demoraram a nos revelar a verdade.

E veja só, se quisermos viajar, a coisa faz mais sentido ainda. Diarréia tem a ver com soltura intestinal. Da "arreia" vem o "arreio", usado em cavalos para retê-los ou soltá-los na andança. Logicamente a arreia é o dispositivo muscular por meio do qual o intestino se prende e se solta. Daí a dor de arreia, quando há algo errado e doloroso nesse dispositivo.

Pois sim, quando eu tiver uma filha eu lhe ensinarei "dor de arreia" e segregarei em seus ouvidos o absurdo médico de falar "diarréia", palavra tão sem lógica e sentido na cabeça de uma criança que se depara de uma maneira mais imediata com a dor e os seus diversos tipos. É, é isso o que farei.

3 comentários:

Raquel disse...

Bom, eu tinha escrito um texto dizendo que não era a favor de mentir pras crianças, mesmo que tivesse uma certa lógica na mentira, mas deu erro!!! Enfim, minha mãe nunca me fez acreditar em papai noel, hoje, que ela faz psicologia, acha que é importante para a fantasia da criança, eu discordo. Acho que temos que ser o mais sincero possível com elas. Principalmente quando se trata de perguntas existenciais. "De onde viemos e pra onde vamos", não terei dúvida em dizer aos meus filhos que eu não sei a resposta. Nada de 'vamos pro céu quando morremos', 'papai do céu nos protege'. Sei lá, não gosto de mentiras.

Raquel disse...

Ah, tinha outra coisa que eu tinha falado, sobre isso de entender errado a língua. Tinha uma amiga que achava que 'umbigo' era 'bigo', uma pessoa tem 'um bigo', duas pessoas 'dois bigos', assim por diante. Já eu confundia sol com sal, ficava sem jeito de pedir pra minha mãe o saleiro quando estávamos almoçando, porque eu ficava com medo de falar errado... era 'passa o sal' ou passa o sol' hahaahha
Coisas de crianças...

Eros disse...

Mas eu não estaria propriamente mentindo, estou é propondo uma reforma da língua. :)

Sobre as mentiras, bem, eu acho que devemos separá-las, há aquelas que são inofensivas e aquelas que podem repercutir ou influir negativamente na vida de uma pessoa. Se fôssemos levar ao pé da letra o repúdio por qualquer mentira, então deveríamos repudiar os romances e a literatura em geral (o que, aliás, Platão fez...), pois uma ficção não passa de uma grande mentira, do início ao fim. Então que eu gosto de um certo tipo de mentira e não abro mão delas.