sábado, janeiro 19, 2008

Medo

Ontem senti medo sim, na casa de minha irmã, em Bragança Paulista, uma certa apreensão percorria-me o corpo ao pensar que teria de entrar na infindável São Paulo por um lado e encontrar uma certa saída do outro lado, completamente sozinho, sem nunca ter passado por lá antes de carro. Mandei mensagens para várias pessoas que talvez já tivessem passado pelo mesmo, buscando alguma informação reconfortante, mas só recebi de volta palavras de conforto moral, muito bem-vindas, é claro. O medo tomou uma tal dimensão que cheguei a baixar o mapa rodoviário do Estado de São Paulo em busca de uma rota alternativa, que evitasse passar pela capital. Achei uma, passando por Jundiaí, Itu e Sorocaba para depois pegar a Régis Bittencourt já na metade do caminho. Desisti por ser igualmente complicado, todas essas cidades são de um porte razoável e também nunca estive nelas. Até a minha irmã ficou um pouco apreensiva e me ajudou a procurar outras alternativas, numa dessas, levou-me até o centro do Estado de São Paulo, depois eu desceria pelo meio do Paraná, passaria por Ponta Grossa para enfim chegar em Curitiba. Uns 300 quilômetros a mais. Foi quando eu percebi a dimensão descontrolada e patética do meu medo. Era preciso enfrentá-lo e domá-lo antes que ele me dominasse por completo. Assunto encerrado e decisão tomada, iria passar dentro de sampa mesmo. Muni-me de um mapa da cidade e fui dormir para descansar. Acordei no outro dia ainda um pouco apreensivo, a cabeça confusa com os sonhos de estrada, mas resoluto. Tomei o café, abracei a minha irmã quase choroso já com saudades e parti ao encontro do meu destino.

Bem, desnecessário dizer que o desconhecido tem um efeito intempestivo sobre a imaginação, contribuindo para o surgimento de medos desmedidos. Claro que fiquei tenso, pois estava sozinho e tinha de prestar atenção no trânsito e nas placas, qualquer erro poderia significar algumas horas na busca do caminho correto. Quando você tem alguém de copiloto te guiando para onde ir, fica bem mais fácil. Mas tirando esse excesso de tensão, de atenção redobrada, foi muito tranqüilo, entrei em São Paulo, peguei a marginal e fui indo até aparecer (o medo era, e se não aparecessem?) as placas indicando a Régis Bittencourt. Quando elas apareceram, fui só seguindo. Depois de mais ou menos uma hora eu já estava aliviado fora de sampa.

Por que estou narrando tudo isso aqui para mim? É que eu fiquei pensando em como é ruim ter de enfrentar absolutamente tudo sozinho, ainda que isso me ajude a ficar mais forte de alguma maneira. Confesso que senti um certo quê de tristeza com este pensamento.

3 comentários:

Unknown disse...

E o tal apoio nem precisa ser muita coisa. Se tivesse outra pessoa do teu lado, tão inexperiente quanto, já teria sido bem mais fácil... ;)

Eros disse...

Teria sido no mínimo engraçado e divertido.
:~~

Raquel disse...

Medo é terrível, quanto mais sentimos, mais imaginamos coisas sem fundamento. Mas realmente a gente amadurece quando temos que fazer algo totalmente sozinhos. Como minha mudança pra São Paulo. Um belo dia pedi demissão, na semana seguinte estava aqui. Deu a louca, falei com meus pais que vinha pra cá e não quis saber. Todos os amigos falando que não daria certo, todo mundo achando que era loucura. Eu só estou procurando independência. E hoje vejo que, apesar de ter pouco tempo que estou aqui, amadureci bastante.