Um ano atrás eu não me imaginaria saindo de Curitiba e voltando a morar em Brasília. Um ano atrás eu recomeçava a me imaginar a trabalhar novamente com filosofia depois de ter passado alguns anos distante dela, a não ser como leitura de cabeceira. Algumas poucas decisões foram se avolumando em grandes decisões. As condições que me levaram de volta à filosofia foram parcialmente fortuitas, não estavam completamente sob o meu controle. Dependeu de um sujeito ter passado em um concurso, de uma certa bolsa ter sido, por isso, liberada e do empenho político em uma reunião departamental de um professor que eu nem conhecia, mas que tinha gostado do meu projeto de pequisa. Esse conjunto de condições favoráveis aliado as minhas saudades filosóficas e ao descontentamento com um vindouro trabalho na área de computação em uma empresa capitalista tradicional fizeram com que eu fosse novamente absorvido pela filosofia. Uma vez de volta, uma vez dando aulas e gostando da coisa, uma vez me sentindo completamente compenetrado nos textos e discussões filosóficos, não poderia me contentar com esta situação insegura de ser bolsista, ainda mais com a chuva de vagas em universidades federais por conta do REUNI e da UAB. Ainda assim, pesava nas costas a minha decisão anterior de ter escolhido vir morar em Curitiba. Poucos acreditam, mas a principal razão de ter vindo para cá foi e continua sendo o clima: é a capital mais fria do país. O prazer estético que tenho ao caminhar pela cidade também conta muito favoravelmente. Além disso, não decido mais as coisas sozinho. A pressão é forte. Anyway, apesar de todos estes fatores pró-Curitiba, vi-me coagido a ter de deixá-la provisoriamente tendo em vista a minha continuidade na filosofia. Dar aulas em instituições privadas de ensino superior, salvo algumas raras exceções, é tão ruim quanto trabalhar como programador na GVT ou na IBM. A minha entrada no departamento daqui, como efetivo, pude perceber muito bem agora, bem claramente, diga-se de passagem, não é algo que dependa apenas de mim, do meu esforço e da minha diligência. Há fatores políticos que fogem completamente do meu alcance. Não dá, assim, para contar com a sorte de bons ventos a meu favor. Então é isso, como o meu amor pela filosofia é maior que o meu amor por Curitiba e como a Marcely cedeu no seu amor por Curitiba para eu saciar o meu amor pela filosofia, decidimos arrumar as nossas malas. E, para a minha felicidade, dentre os poucos departamentos de filosofia fora daqui que me atraem, a UFSC e a UnB, um deles decidiu pela minha aprovação. Vou com algum pesar, Curitiba fica, mas também vou feliz, lá tem excelente filosofia e, pelo que me lembro, um povo muito mais simpático e interessante.
Quando olho para trás, gosto de ver que a vida não é completamente linear. Se ela te soa muito linear, então você certamente não tem tomado muitas decisões, não tem tomado em suas mãos a rédea de sua vida.
domingo, maio 31, 2009
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3 comentários:
Fiquei muito feliz com o que li. Porque acompanhei pelo teu blog teu descontentamento, o companheirismo da Marcely, a teu desejo e esperança de que havia algo para você na filosofia que não cheirasse a comodismo e mofo. Do ponto de vista acadêmico, foi uma troca excelente porque a UNB dispensa comentários. E do ponto de vista de uma vida, é uma nova perspectiva, um desafio, uma renovação. Enfim, teria que terminar aqui com a última frase do teu post, que diz tudo (e vou colocar no meu blog)
Felicidades pra ambos! E mande notícias, porque eu os acompanho de longe!
É, tomar decisões me fez também estar em lugares diferentes e ter uma vida inesperada também. Pode até soar meio auto-ajuda, mas talvez se está ruim vale a pena tomar uma decisão. Quem dera as decisões fossem tão mais fáceis como foram estas nossas. É fácil deixar uma cidade que não te agrada, uma família que não te agrada, uma proposta de emprego que não te agrada (tendo outra coisa em vista). Como você disse, é triste deixar Curitiba por aqueles motivos. Por outro lado, muitos outros bons motivos nos impulsionam pra Brasília e ganharam. E como você sabe, não foi só meu amor por você - embora, de fato, principalmente ele - que me fizeram decidir deixar minhas coisas aqui e te acompanhar. E se você fosse pra Aracaju eu também te acompanharia. Mas lógico, se a situação financeira fosse continuar a mesma ou pior eu nem sonharia deixar aqui, a não ser que você se decidisse mesmo a ir para lá. Eu te amo e você é meu companheiro. Não tem disso de um ficar pra cada lado. Eu não aguento ficar até às 22h sem você, nas quinta-feiras!
=*
Minha vida anda um bocado linear. Mas espero pela vinda de vocês.
Mudei de blog, o barco já não me levava onde eu queria. Agora estou no patricianardelli.wordpress.com
=*
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