Aquele orientador que eu admirava e continuo admirando, ao menos enquanto mente, magoou-se com as minhas palavras, que nem lhe foram dirigidas, mas lhe foram repassas por aquele outro orientador com o qual me desentendi intelectualmente. Não sei como as minhas palavras lhe foram repassadas ou, se repassadas na íntegra, se o contexto em que foram expressas também foi explicitado. Duvido muito, de outro modo, a mágoa não seria sensata.
O contexto era explicitar se eu tive, dos meus professores, ao longo da graduação, não só apoio mais estímulo para filosofar. A resposta não podia ser diferente: tive algum, porém pouco, bem longe do ideal. Se o contexto fosse outro, isto é, se me pedissem para explicitar se eu tive, dos meus professores, ao longo da graduação, apoio e estímulo formativo, a resposta não poderia ser diferente desta: tive enorme apoio, de alguns professores, em especial do orientador admirado, um apoio e estímulo tão grandes que seria impossível lhe manifestar todo o meu agradecimento.
Imagino que seja difícil para quem não fez um curso de filosofia no Brasil perceber a diferença entre apoio e estímulo para filosofar e receber apoio e estímulo formativo. Explico: nossos cursos de filosofia tendem a ser, embora isso venha mudando muito vagarosamente, uma apresentação da história da filosofia ocidental e o aluno é asseverado um bom aluno quando aprende a fazer uma boa história da filosofia. É para isso que ele é treinado e é por isso que ele é avaliado. Vê-se, então, que não cabe nesses cursos ou nem faz muito sentido estimular o filosofar, a não ser secundariamente enquanto meio para o bom historiar.
E a realidade era essa mesmo. Apesar de a maior parte dos alunos de filosofia de todos os cursos de filosofia no Brasil se frustrarem ao longo do curso pela ausência do filosofar, nenhum estímulo nesse sentido lhes é dado aberta ou explicitamente. Ao contrário, costumam ser até punido se o fazem. Tive a sorte de encontrar alguns professores que não puniam o filosofar, mas também não posso dizer que o encorajavam e, quando o faziam, era de um modo bem tímido. Então eu disse o que eu disse e, em dizendo o que eu disse, eu disse a verdade.
Talvez essa seja apenas a minha percepção, talvez, na dele, ele tenha feito demais. Eu acho que ele fez demais sim, mas de um modo formativo. Propiciou-me muito conhecimento que de outro modo eu pastaria para obter. Deu-me algum apoio sim para o filosofar, mas nada revolucionário, nada perto do que eu imaginaria ideal em um curso de filosofia.
O que chateia mesmo é saber que para sobreviver em meio a esses egos ultrasensíveis é preciso aprender a falar sempre como se estivesse pisando em ovos. E, para isso, eu confesso realmente não ter o menor saco. Por isso, prefiro agora me calar diante deles. Assim, ninguém se magoa.
2 comentários:
Olha, dependendo da forma como passaram isso pra ele, deve ter magoado sim. Acho que mesmo com todo contexto já teria. Na academia os egos são de cristal.
manda todo mundo tomar no cu e vamos vender pão de queijo juntos...
Postar um comentário