Hume já dizia, o ceticismo é inócuo, ele é incapaz de atentar contra a nossa tendência natural a crer. Isso não significa que a razão seja inoperante na formação de crenças, que não devamos até estimular um certo grau saudável de dúvida, mas apenas que a razão é escrava dos nossos impulsos e instintos. Quando tenta suplantá-los, pelo ceticismo, fracassa.
O ser humano, a besta das bestas, foi dotado pela natureza com uma inigualável capacidade de ter esperanças, somos instintivamente esperançosos. Eis a sabedoria da sobrevivência. Ao nos dotar da capacidade de "conhecer" o mundo e prever o futuro, a natureza precisou compensar o pessimismo que daí emergiria naturalmente, posto que a probabilidade de quem tá na merda é continuar na merda, nos congratulando com este instinto de se agarrar a meras possibilidades mesmo quando elas são improváveis.
Quase diariamente me perguntam, e eu também, a razão pela qual não me mato. Tivesse eu uma razão para não me matar talvez aí sim me mataria, pelo gosto de contestá-la, para sentir-me livre dela também, ainda que pela última vez. Mesmo o amor não é uma razão. Mesmo com amor, as coisas ruins continuam ruins, a diferença é que aquele instinto de esperança recebe um reforço.
Com o amor há, porém, uma compensação: as coisas que já eram boas ficam ainda melhores. Mas eu sei que isso não serve de consolo e não diminui em nada o desconforto do que é ruim.
quinta-feira, junho 26, 2008
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2 comentários:
"Tivesse eu uma razão para não me matar talvez aí sim me mataria"... eu não acredito que você disse isso! Nem acredito nisso tampouco!
E você não sabe que você é a razão do meu viver? Então, taí uma razão pra viver! ;)
A meu ver, o amor torna as coisas ruins mais bonitas. Devo ter alguma estranha tendência à melancolia.
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