Logo depois de ter entregado à amada a sua primeira carta de amor, Florentino Ariza volta para casa febril, sofrendo todo o desespero da espera de uma possível resposta. Consolado pela mãe, ela lhe diz para aproveitar bem aquela dor, dor de amor, pois ela não iria durar para sempre. É o que penso das minhas dores, todas elas, exceto as dores físicas, é claro, falo aqui das dores da alma; essas eu procuro saborear na mais absoluta sobriedade, sem analgésicos etílicos ou qualquer outro amaciante entorpecente. Quero viver completamente as minhas dores, extrair delas todo o conhecimento possível, pois só assim mitigo o meu medo, e o que é mais importante, só assim me sensibilizo para o outro.
Lembro em especial agora das dores de morte, dores que nascem com términos, abandonos, finais e, claro, com a própria morte. Uma em especial é-me inesquecível, pela forma como me arrebatou, me consumiu e dilacerou ao longo de algumas semanas. Noites em claro, choro compulsivo, e o que era mais aterrador: impossibilidade completa de imaginar o amanhã, como se a mente estivesse amarrada no pé da cama e não conseguisse se projetar no além. E o além tomava a forma do próprio vazio. Chegava a sentir pânico com o embotamento da imaginação, a impossibilidade de sonhar, por mais que tentasse e esforçasse, não conseguia. Era-me mesmo impossível imaginar até as coisas mais banais do dia-a-dia, como tomar café da manhã, ir para a faculdade etc. Eu pedia desesperadamente pelas imagens, mas a mente recusava-se a formá-las. Tal desespero emocional infundia-se pelo corpo na forma de calafrios, náuseas e uma certa queimação da região lombar que até hoje não sei identificar muito bem o que é. Quando a dor psíquica é muito grande, o corpo se ressente também, se enfraquece. Penso nesses dias sem pesar algum, mesmo com um olho atento ao temor que me provocam, pois também me evocam um amor que já senti e desta lembrança eu gosto. É esperançosa.
O filme do título é bom, mesmo para quem já leu o livro, mas desaponta logo na primeira fala com o inglês canhestro saído da boca do Juvenal, ali estirado no chão, morrendo. Espanhol, por favor!
sábado, março 15, 2008
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