Alfredo teve um sono agitado nesta madrugada, dois amores passados lhe visitaram em sonho, primeiro um mais recente, fresco não só na memória, como na sensibilidade, em seguida, um bem mais antigo, do qual ele se lembrava muito esporadicamente e com boa vagueza. Ela(1) lhe convidou para um jantar em sua casa, comemorava o namoro, que logo se transformaria em casamento. Ela(1) queria apresentá-lo, carregava na consciência uma finalidade ilustrativa: Alfredo precisava aperceber-se do que ele não tinha, como se fosse culpado pelos seus genes. Seu futuro marido é atlético, alto e forte. Em todo o resto Alfredo é mais e mesmo assim ela(1) preferiu ter o que mostrar às amigas do que se sentir acompanhada apenas no refúgio do lar. Durante o jantar, Alfredo viu nos seus(1) olhos infelizes a resignação e o rancor dirigidos respectivamente ao namorado e a ele. Ela(1) desejava o impossível, queria extrair o melhor de cada e cozinhá-los numa única forma. O futuro-tolo-marido foi o único a não perceber o clima angustiante na mesa, os olhares engasgados, dali saiu para o sofá com a felicidade própria de um glutão e o sono da digestão.
Ela(2) apareceu sem cenário, em um sonho de fundo branco, nos braços, carregava uma criança, fruto do casamento recente. Enquanto brincava e sorria com o seu filho, ela(2) queria apenas mostrar o que Alfredo havia perdido, ao não ter ousado roubá-la de seu namorado, pois naquela época já quase esquecida por Alfredo, ela(2) o amava e ele a ela. Alfredo era escrupuloso demais, não se atreveria, achando que o amor dos outros era mais puro e merecedor que o seu e ela(2) temia a solidão, como a maioria das mulheres. Nos olhos dela(2) não havia rancor, apenas uma suave melancolia, que agora se apagava com a presença alegre da criança. Alfredo não soube ao certo a que ela(2) veio em seu sonho, ela(2) tinha em seu semblante uma mensagem pessimista e outra otimista, como se lhe dissesse: "por tuas escolhas, perdeste algo para sempre, mas por elas poderás ganhar o teu futuro, aprendas a domar este medo que nos afastou". Mesmo que não as tenha dito, foi com essas palavras que acordou no peito; ao se levantar, sentiu-se um pouco melhor, diferente, pois hoje, lembrou-se, já é capaz de rasgar cartas de rivais.
segunda-feira, janeiro 28, 2008
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3 comentários:
Que confusão!
Enquanto isso eu sonhava que alguém dizia que eu era lésbica!
E eu pensando, durante o sonho, será que eu passo essa impressão?
hahahahahahahaha!
=*
Na primeira parte eu estava achando aquilo tudo um pesadelo...
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