domingo, dezembro 30, 2007

Milyang

O marido morreu em um acidente, e o filho foi brutalmente assassinado após sequestrado, e ela, elo terreno entre ambos, findou-se por dentro. Lágrimas, dor, desamparo. Brevíssimo, o amor reaparece, pelas mãos intangíveis de Deus. Ela o aceitou e sorriu, encobrindo a sua tristeza incrustada. Paralelamente, todo o tempo, ele estava lá, apoiando-a em tudo, respeitoso, amigo, dando-lhe um amor que ela rejeitava indignada. E, no entanto, as mãos dele eram tangíveis. Quanta incongruência! Arrisco um palpite explicativo: a dor foi tão intensa que lhe deixou um medo indomável, para casos assim, Deus é perfeito. Ele é imortal, seu amor incessante não se esgota e ele jamais abandona, a não ser quando finda a fé. Fé acabada, deus, agora minúsculo, inexiste, nenhuma dor por abandono. Na encruzilhada entre o palpável e o impalpável, o medo lhe soprou baixinho o veneno da fantasia. Fiou-se num amor inumano, sem decepções, baseado inteiramente na sua ilusão, na sua crença e, pasmem, sobretudo na sua vontade de sobreviver, perecer permanecendo. E, no enanto, o amor real, brutal e humano estava bem ali do lado dela, bastava abrir os olhos e estender as mãos. O ser humano amedrontado, porém, nega-se a viver. Segue-se mais uma tragédia. Mesmo esse amor cristalino, ideal, cheirando adocicado, foi capaz de lhe trair. Ela se preparou para perdoar o seu ofensor, o assassino de seu filho. Tentativa de resgatar a dignidade pela humilhação, pois não há nada mais ofensivo que o perdão, exercício puro da vontade de humilhar. Lá chegando, porém, sentiu funda a facada divina fincada nas costas: encontrou o seu ofensor sereno, em paz. Deus já o havia perdoado e expiado a sua culpa. Sucedeu-lhe a loucura. E ele imperturbável no seu amor permaneceu ao lado dela. Ao vivo e a cores em Secret Sunshine.

Um comentário:

Raquel disse...

Forte, mas bonito...