sexta-feira, março 27, 2009

Do Eu

Este aqui anda vagaroso, em ritmo de idoso, enquanto o outro exibe frescor e juventude, apenas para atestar a obviedade de que a atenção é limitada. Como agora toda a minha atenção se divide entre a Marcely e a filosofia, quase não sobra nenhuma atenção para dirigi-la a mim, ao auto-conhecer-se ou mesmo auto-desconhecer-se, não importa, o fundamental aqui é o "auto". Não poderia ser diferente. Antes, sozinho, tinha em mim toda a fonte de reflexão, tinha ali um Eu cheio de demandas e necessidades clamando por atenção. Agora, entre os filósofos, sou bombardeado de todos os lados com estímulos reflexivos, aos quais reajo incontrolável e prazerosamente. Assim, eu me descuido para cuidar da filosofia. O tanto que eu escrevia aqui eu escrevo lá em dobro ou em triplo. Não vejo nenhum mal nisso, sinto-me, para falar a verdade, até melhor assim.  É como se eu estivesse o tempo todo a brincar. Tudo bem que é um brincar mais a sério, mas é tão lúdico quanto qualquer outro brincar. Meu Eu, assim, encontra-se tão divertidamente ocupado que ele quase não me requer mais qualquer atenção.  Tá como a crinaça que se enturma e não pede mais o colo da mãe o tempo todo. 

sexta-feira, março 20, 2009

De-situado.

Vejo-me de-situado, sempre de fora, alguém a observar, raramente a partilhar. Não é uma posição muito agradável. Muitas vezes rio sem rir, animo-me sem me animar. É uma sensação estranha esta de viver sem imergir. É como se eu vivesse apenas na casca. Deslizo tentando entrar no miolo da fruta, mas nunca a penetro. Não estou falando de fingimento, em ser o que não sou. Estou falando em ser o que não consigo ser. Nem falo que é algo que gostaria de ser, é uma falta que não é falta. É sobretudo estranheza. É, no fundo, não conseguir entender, compreender, captar a essência dos grupos, o que lhe dá razão de ser. Sem esta compreensão, não posso ter nem a impressão do que é ligeiramente viver em grupo. Não que eu não viva em grupo, eu vivo, mas sem vivênciá-lo de dentro, sem aquela sensação de eu pertenço a isto. 

terça-feira, março 03, 2009

Aula boa

Para a maioria dos filósofos brasileiros, aula boa é aquela em que o aluno não entende patavinas. Flósofo que se preza tem de parecer profundo e a profundidade é evidenciada pela obscuridade. Em mais um concurso, me ensinaram um truque adicional: ganha mais pontos pela didática a aula totalmente lida. Óbvio, não? O objetivo é maximizar o não-entendimento. E só agora eu percebo essas coisas.