quinta-feira, dezembro 25, 2008

A bela feia


De longe, realmente é bela; de perto, as imperfeições machucam as vistas. Muita pichação, não há quase prazer algum em sair pelas ruas a fim de se deleitar com os sentidos, pensando aqui no aspecto urbanístico e arquitetônico. O sobe e desce desanima qualquer perna. Ainda assim a visita vale à pena pelas guloseimas e o sorriso hospitaleiro que se vê estampado em cada mineiro. A melhor parte: os amigos de décadas com a mesma amizade incólume, faz-me pensar que, para algumas coisas mais abstratas, porém reais, o tempo é inofensivo.

terça-feira, dezembro 23, 2008

Da maturidade intelectual

"Ele ainda não está maduro", "precisa evoluir mais", "está confuso, precisa amadurecer mais". Metáforas assim são usadas para se referir ao "estágio de desenvolvimento intelectual" do aluno. Difícil discordar de que algumas idéias só saem, se moldam ou se articulam depois de muito ruminar. No entanto, desagrada-me a aceitação dogmática dessa crença bovina, a de que sem pastar, não há como inovar, ou até bem menos que isso, não há sequer como pensar ou descobrir algo interessante. Pode acontecer do pensamento de chofre ser mais agudo e penetrante que o pensamento ruminado. Perde-se coragem e ímpeto quando se pondera em demasia. O fato é emocional, mas que não deixa, por isso, de obstruir a verdade. Sorrateira ela é e, por isso, a prudência secular no cuidado em buscá-la. O medo de errar, no entanto, pode nos desviar igualmente do caminho certeiro. Às vezes é preciso arriscar e lançar a idéia tão logo apareça, antes que seus pesares a encubram nos escombros do pensamento. Quando fazê-lo? Só a sua própria experiência o pode indicar.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Da Covardia

Eu voltei, mas terei culhões para resistir dessa forma acovardada? Esse é o problema de ter a sobrevivência nas mãos de outros com os quais você discorda radicalmente em um assunto capital: a educação. A bolsa é boa, mas é uma merda. Penso também que se estivesse na iniciativa privada da computação, daria no mesmo. Sapos para engolir não faltariam. Melhor aqui, então, apesar de todos os pesares. Hoje escutei calado, muito embora não fosse dirigido a mim, a frase encorajadora: "não há nada que você diga que já não tenha sido dito de uma forma melhor por outra pessoa". Que forma estupenda de estimular a criatividade dos seus alunos! Sobre o ar interrogador desses últimos, ainda ouvi a analogia fenomenal: "as pessoas vão aprender a dirigir na auto-escola e não questionam as regras de trânsito, por que não adotam o mesmo comportamento aqui no curso?". Eu estava realmente ali? Quão mal o gênio malígno às vezes consegue ser comigo. Incrível como qualquer pessoa comum tem um bom senso infinitamente maior que a de qualquer filósofo acadêmico brasileiro. Os alunos querem ouvir mais sobre o papel do filósofo na sociedade, sua possível intervenção política e social. Depois de se olharem mutuamente, como se chegassem a um acordo implícito, desabafam raivosos: "não compete à filosofia agir, não conheço professor de filosofia que atue politicamente". Certamente Marx e Sarte não deram aulas de filosofia. Gênio, gênio, assim vou preferir ficar surdo. As psicólogas vieram relatar os resultados dos seus estudos sobre a evasão dos alunos. Atualmente, em torno dos 40% e teve ano que ficou em torno dos 80%. A maioria queixou-se do pouco espaço para pensar, da falta de estímulo para o pensamento próprio, ao contrário, ele é violentamente podado. No entanto, o corpo uníssono dos acadêmicos parece pensar que tudo vai bem, afinal, "nosso curso tem exclusivamente o objetivo de formar professores universitários". Quem ouve uma frase assim até se encolhe diante de tanta seriedade. Mas quem é que pode levar isso realmente a sério? Eu não posso. Estamos falando de dinheiro público. A graduação não pode ter apenas por objetivo formar alunos que farão mestrado e doutorado. Um curso que não tem esse objetivo exclusivo não perde, por isso, qualidade. Mas isso é o de menos, perto de tudo que ouvi, foi o menor dos males. O pior é o acordo tácito que está por trás dessa fala naquele contexto: a idéia pilar de que o professor universitário deve ser mais um papagaio que alguém que saiba pensar. Voltei para casa arrasado, principalmente comigo. Covarde. É só o que consigo me repetir. Consola-me pouco dizer-me que não adiantaria nada tentar convencê-los da importância de se estimular a criatividade dos alunos e valorizar suas idéias próprias. O tom de voz já exaltado diante de um simples relato de resultado de pesquisa se elevaria ao grito, eu não duvido, diante da discórdia frontal. Covarde. Seja um lobo em pele de cordeiro.