sexta-feira, maio 25, 2007

Convicção

Arriscar, sonhar, esperar e ansiar? Que nada! Isso é coisa de quem dormiu com um cético. Hoje, neste instante-segundo, tenho a desarrazoada convicção da minha primavera invernal. Venha cá colher a flor nascente. Leve-a contigo, pois nos primeiros segundos da alvorada ela irá desabrochar, lançando a minha essência no ar. Inspire tão fundo quanto possa, e para sempre ficarei em teus pulmões.

terça-feira, maio 22, 2007

Heráclito

Banho-me todos os dias nas águas de Heráclito. Tudo muda, saio renovado, acordo com os interesses mais diversos. Mas sabe, queria lhe dizer isso, segurando tuas mãos, tamborilando o seu anular com o meu polegar: algo não tem mudado ultimamente. Minha vontade de estar com você.

sábado, maio 19, 2007

Eterno

Angústia por não encontrar
a certeza.
Tédio
por tê-la encontrado.

Nenhuma direção a tomar
todos os caminhos iguais.
Só uma cega sensação
a seguir.

Crença espúria
que habita o peito.
Eterna ela
sem nada eternizar.

Esperança
que prolonga o dia.
Em seu seio encontro
a eternidade do sentimento.

quinta-feira, maio 17, 2007

Graus

Um dia Alfredo me procurou chorando com uma pergunta no peito. Queria saber porque as mulheres rejeitavam o amor que ele lhes dava gratuitamente. Ao natural, respondi que era para não lhe implantar uma falsa esperança no coração. Alfredo apertou minhas mãos e retrucou em desespero: "Mas eu não espero nada! Minha única espera é que aceitem o que lhes dou, nem um centavo quero em troca". Apesar de não acreditar muito nessa absoluta abnegação de expectativas, percebi, enquanto olhava para o sofrimento de Alfredo, que há diferentes graus de rejeição. Não dar nada a quem te quer é irrisório perto de nem receber o que ela lhe dá.

terça-feira, maio 15, 2007

AMIGO

Foda de viver numa sociedade machista é que se você dá atenção a uma mulher e lhe faz uns agrados, ela já começa a achar que você está no chaveco e se ela não te vê como um potencial amante/namorado, já vai logo gritando em letras garrafais e piscantes e um sorrio meia boca quando te encontra: "oi AMIGO". Meninas, aprendam: nem todo homem é cavalo de padreação.

sábado, maio 12, 2007

Amargo

Eu não me incomodo de escutar o seu silêncio por horas e dias seguidos. Viveria contigo como um mudo, se fosse a vontade conjunta, mas bem sei eu que você não vive sem uma querela, e creio que nem eu. Afasta o tédio. Mas não suporto a falta de sorriso dos teus olhos diante dos meus. Essa aparência de indiferença acaba tendo um sabor amargo. Meus olhos marejam enquanto os teus parecem secos. Por que? Por que?

Frio vs. Frieza

Por que gosto tanto do frio? Certamente a minha natureza calorenta contribui para esse apreço. Mas a verdade é que eu busco com o frio da natureza camuflar a frieza humana, como se o primeiro me fizesse esquecer a segunda. Tocado e arrepiado pela massa polar, centrado no seu existir, desapercebo a insensibilidade glacial dos que me cercam. A natureza sabe proteger os filhos que tem.

segunda-feira, maio 07, 2007

Violeta

Olhando para baixo. Trilho, trilho, verde grama. Trilho, trilho. Uma violeta ao lado do trilho. Barulho do trem, longe ainda. Trilho, trilho, verde grama. Outra violeta. Lindas violetas contrastando com o trilho desgastado e a grama desigual. Esporádicas e esparsas, no entanto. Ando, ando, ando. Mais uma aqui e outra ali. Barulho mais intenso. Olhando para frente. Visão. Estupefato. Visão, A visão. Vestido curto, pernas alvas e cristalinas, camisa xadrez. E o cabelo, surpresa, violeta como a violeta das violetas.
Sorriso meu na boca.

sexta-feira, maio 04, 2007

Oi

Sei que você é vigiada, repreendida e tolhida por olhares nem tão importantes assim, mas que, no entanto, são olhares próximos dos olhos que te importam. De outro modo, não aceitaria a sua ausência. Ah não, de modo algum. Longe de querer lhe trazer aborrecimentos. Mas eu não me furto a sentir, nem a lembrar e muito menos a dizer aqui o que me vem na veneta. O que eu tenho para lhe dizer hoje? Nada. Só queria que me ouvisse.

terça-feira, maio 01, 2007

Estender

Não era necessário tocá-la. Mas quando vi sua mão se aproximando da minha, não pensei duas vezes. Deixei que meus dedos pousassem levemente sobre os teus, por uma fração de segundo, breve o bastante para que você não percebesse a minha intenção, mas suficientemente duradouro para estender a experiência do tempo, enquanto fechava meus olhos e focava toda a atenção nas minhas sensações táteis, provocando, assim, a sensação de um longo contato contigo.