sexta-feira, dezembro 08, 2006

Cabelos Azuis

Fiquei completamente hipnotizado pelo seu cabelo azul celeste. Fosse verde ou laranja, eu nem a teria notado. Minto. Minto. As palavras pontuadas, a dor expressada, o grito inaudível, incompreensível e a paradoxal vontade de viver mesmo diante da desesperança de ser, todos estes sintomas magnetizam a minha atenção. Por que? Não sei. Mas posso confessar uma razão: a semelhança com aquela que, dez anos atrás, erotizou o meu corpo pela primeira vez, com aquela que pulsou violentamente vida em meu coração quando só havia morte no meu olhar. Lhe tenho olhos ternos e distantes. É por isso que eu digo que amor não acaba, mesmo que o relacionamento termine. Esta moça que eu nem conheço recebe agora um pedacinho desse amor em razão do bem transbordante que outra pessoa me fez no passado. Eu a tocaria com lágrimas se pudesse.

Lá e cá.

Ela nasceu aqui e foi para lá. Eu nasci lá e vim para cá. Eu não sei o que ela foi fazer lá. Eu vim para fugir do calor e do passado. Seria irônico se ela viesse para cá justamente quando eu fosse lá. Por poucos dias isso não acontece. Seja por sorte, destino ou mero acaso, o fato é que a geografia nos permitirá agora um esbarrão. É o lá e o cá se mesclando.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Opção

Sinto angústia em ter que escolher, pensando em tudo que terei de deixar para trás, sentindo nostalgia dos passados futuros que nunca foram. Optar nunca é leve. Mas não ter o que escolher é muito mais pesado. É o peso de não ter um Eu para negar, é o peso de não ter uma pausa de si. É um excesso e uma falta de Eu ao mesmo tempo.

sábado, dezembro 02, 2006

Novo morador.

(No elevador)
- Você mora aqui faz tempo?
- Sim, desde o início do ano.
- É tranqüilo aqui?
- É sim.
- Mora sozinho?
- Sim.
- Tem muita mulher também? Morando sozinha? (coçando o saco)
- Tem.
- Assim que é bom, né?
- Pois é.

Apesar dos pesares, não notei malícia ou canalhice no seu olhar. Apenas que é homem e é muito jovem.